O gato que me fugiu

Fotografia Olho de Gato


Era um gato fininho
como os gatos egípcios
e tão altivo
que diria ter sangue 
de Nefertiti,
e tão negro e luzente
que parecia a imagem de Bastet,
a deusa-gata.
Entrou-me pelo sonho sem ruído
e passeou por mim
sem fazer caso algum
do meu espaço.
Às vezes ronronava,
roçando-se,
e pedia comida e não comia.
Quem sabe fosse
um gato intemporal,
espírito do Delta,
orgulho e porte esquivo
que não se alimentava
senão com aves
e poemas do Antigo Egipto.
O certo é que deixei de vê-lo
e, quando despertei,
soube que não havia hipótese
de ele voltar
por causa do ladrar dos cães.
E assim este poema
tornou-se em elegia pelo gato
que não terei
e que já baptizara 
com um belo nome. Faraó.
Nuno Dempster


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