Braguilha

 

1.

"Um dos exemplos mais surpreendentes da linguagem corporal registados na história da arte tradicional europeia é a erecção do pénis. Contudo, encontramo-la descarada e orgulhosamente sob a forma de braguilha medieval. Poderíamos esperar que tal exibição se confinasse a exemplos secretamente recolhidos de arte pornográfica, mas o contrário é que é verdade. Aparece publicamente em retratos oficiais de reis e nobres, mas também nas cenas campestres dos Bruegel e, na altura, era amplamente reconhecida como socialmente aceitável, pois a exibição da condição masculina indicava um elevado nível de virilidade."


2.

"Embora a braguilha fosse concebida para preservar a modéstia, em breve foi aumentada com almofadas para se tornar mais confortável. Com o passar do tempo, e à medida que mais almofadas iam sendo acrescentadas, a tentação de as decorar com sedas, veludos, jóias e bordados revelou-se irresistível.  Não só aumentava de tamanho como passou a atrair mais a atenção devido à forma e começou a voltar-se para cima numa exibição fálica. Em meados do século XVI, tinha atingido proporções épicas e chegou a ser feita em armaduras — tendência que divertiu o autor francês François Rabelais, o qual comentou que as partes delicadas dos homens precisavam de ser protegidas protegidas nas batalhas tal como as nozes são protegidas na casca."


3.

"A sua popularidade manteve-se até à segunda metade do século XVI, mas no início do século XVII tinha sido sobrepujada por outras modas. No século XIX a braguilha tinha-se tornado um acessório de vestuário tão embaraçoso que um museu da época vitoriana classificou os exemplares  que sobreviviam nas suas colecções  como «ombreiras».


4.

A braguilha não voltaria a ser vista no Ocidente até 1971, altura em que o filme de Stanley Kubrick A Laranja Mecânica apresentou um bando de delinquentes violadores que usavam braguilhas de pano e, em ocasiões especiais, um longo nariz fálico. 


Este tema foi depois recuperado por algumas bandas de heavy metal, nomeadamente os GWAR, que subiam ao palco usando braguilhas enormes e elaboradamente decoradas, embora tal moda tivesse durado pouco.


5.

D outro lado do mundo, na Nova Guiné, os machos de elevado estatuto nas aldeias da região de Sepik têm usado braguilhas tribais ao longo de séculos. Conhecidos como «falocriptos» são elaboradamente decorados e tornaram-se obras de arte de pleno direito."

in POSES — LINGUAGEM CORPORAL NA ARTE. 
Desmond Morris. Trad.: Maria Carvalho.
Bizâncio, Lisboa, 2020. Pág. 90/91


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