Boca do lobo, vivo na boca do lobo



Na boca da lata, como a vida na mata, lágrimas nos olhos do copo, que desumanizam o povo, o filho do beijo do lobo, que era chamado de louco, sabia a história das estrelas, mas comia no lixo, jantar, mata-bicho, na boca do lobo, ele assiste o banquete dos bichos, boca do lobo, vivo na boca do lobo, eu vou começar do princípio, tudo foi com sacrifício, eu sei que em meu benefício, as grandes perdas viraram ganho, quedas e rombos, Mambos de vários tamanhos, tentei muitas artimanhas, de panos vestiu os meus planos, pisei mais uma linha, e quando forte caminha, todas as fases do ofício, esbarro no princípio de que só valia quem tinha, cheio de flores, pinto quadros nos meandros onde ando, na pele sinto as dores dos mosquitos que vão me ferrando, são picadas que viram, pingos que viram maré, na lama que suja alma de quem tenta sobreviver, mas mesmo assim estou de pé, morro em cada esquina, ressuscito a cada matina, nos braços alicerçados na fé, Mandume passou pelos “comba” ponto a ponto people tem força, e a luz do prédio 200 a qualquer momento de apaga, mas há que explicar a frota que a nossa tropa é sem farda, ser humano, que sempre se identifica a tudo que não modifica, o que à nossa casa faz falta, respeito e poder, última linha batida, metamorfose do C. 

Boca do lobo, vivo na boca do lobo. Sentei e lembrei da cota, lembrei-me da velha, a trás do pano que era bota, dormia na esteira, era mesmo mãe grande, e eu já zanzava com a gang, assaltava carros e motas, fumava charros, benzia notas, que não me fazia feliz, não me deixavam completo, nessa vida não quiz morrer no beco do gueto, nessa vida que finjo que levo a desiludir os meus povos, sou esse orgulho que ainda conservo, tipo nós todos vendemos ovos, os espíritos dos ancestrais, vão vir me socorrer, vão vir, vou conseguir desconstruir, o cubo, aqui eu não vou morrer, aqui não é porque é bobo, investir o suor no meu estudo, vou escapar da boca do lobo, esse lobo quer me morder, quer me comer, esse lobo quer me engolir, vivo com um por campo no pico, perdi a minha dama “yabara” na cara do rico, no tico-tico da fuba, na boca da venda, da casa onde fico, tento pagar a minha renda com os pés que pisam a uva, me disseram são teus, as vezes é como a mão que se esconde na luva, em volta no sangue de Deus, esse meu vinho tinto como gotas de chuva, esfomeado e faminto na noite escura e esquiva, como quem te avisa teu amigo é, eu vou fugir desse lobo, esse lobo vai me morder, vai me dormir, esse lobo vai me morder ele vai me engolir. 
Paulo Flores


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