O boyismo *

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 5 de Agosto de 2011



Ninguém se admirará muito se o governo de Pedro Passos Coelho acelerar em Agosto as nomeações dos boys laranjas e centristas.


É que o boyismo é uma das imagens de marca da terceira república.

Quem criou este monstro clientelar foi o professor Cavaco. Guterres ainda bradou: «no jobs for the boys!» Em vão. Isso só serviu para, a partir de então, se passar a chamar boys aos boys.

Infelizmente, com o pretexto de que a máquina administrativa herdada do salazarismo era lenta e ineficaz, foi sendo feito um segundo aparelho de estado ao lado do que já existia. Tem sido um festim de novos institutos, fundações, autoridades, empresas municipais, épês, épêés, entidades várias e de variegadas configurações jurídicas.

O estado tem recebido sucessivas camadas de boys e girls incompetentes e essa é uma das causas de uma boa parte dos nossos actuais sarilhos. Como é óbvio, o boyismo é mau para o estado. Tenha-se esperança, mesmo que moderada, que os "remédios” da Troika façam alguma lipoaspiração à boyiada.

Mas o boyismo é também mau para os partidos e isso é muito menos óbvio. Como os partidos têm muitos empregos para dar, eles foram deixando de ser sítios para tratar de política para passarem a ser agências de emprego.

Esses empregos são dados não por mérito mas por acto de vontade discricionário do chefe que, quanto mais medíocre é, mais tende a promover os lambe-botas.

Isso foi matando, aos poucos, a alma dos partidos. Agora, nem para as juventudes partidárias se pode olhar com esperança: os jotas foram clonados com um conformismo ainda maior que o dos séniores.

Ora, se este boyismo não for interrompido, das duas três: (i) ou se arranjam outros partidos, (ii) ou se inicia uma quarta república (presidencialista), (iii) ou as duas coisas.


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