Blues de fim de Agosto*

* No Jornal do Centro aqui

1. Este Agosto foi muito amável, suave na meteorologia, afreguesado nas esplanadas, nos areais, nos passadiços e nos baloiços com vista prá paisagem.

Dão-se os últimos chapinanços na água. 

Descem as persianas das casas dos emigrantes. O silêncio regressa às aldeias. Nos cafés, as televisões continuam na CMTV, mas agora há mais mesas vazias do que parceiros para a sueca.

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Quase, quase fim de Agosto. Foi bom mas está a acabar. Mais uns dias e é Setembro. Já está quase toda a gente vacinada. 

O vice-almirante prepara-se para despir o camuflado. Em visita a Viseu, lembrou que, quando tinha quinze anos, viveu na cidade dos viriatos. E, numa entrevista ao jornal Nascer do Sol, Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo fez mais confidências: que, no verão quente de 1975, teve uma namoradinha viseense que lhe atirava “uns bilhetinhos para o chão” e que ele achava aquilo “ridículo”. Já se sabe: todas-as-cartas-de-amor-são-ridículas. Atiradas para o chão ainda mais.

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Este Agosto está a acabar. O verão começou a dizer adeus. Os dias mingam. As noites crescem, pedem um casaquinho.

No Facebook e no Instagram, ainda se publicam pores-do-sol a dourar areais e falésias, mas há no ar um princípio de tristeza. De vésperas de fim. Não tardam aí as contas dos cartões de crédito.

Este é um tempo de blues: 


2. Quando uma câmara fica falida, recebe apoio do estado central ao abrigo do PAEL - Programa de Apoio à Economia Local e fica obrigada a cobrar as taxas mais elevadas dos impostos municipais. Compreende-se, gastou demais, precisa de mais receita e menos despesa. Nos termos da lei, autarca que falhe estas obrigações perde o mandato.

Ora, como há seis presidentes de câmara em risco por desrespeito do PAEL, cinco do PS e um do PCP, estes dois partidos da geringonça aprovaram no parlamento um diploma que perdoava aqueles autarcas.

A terceira república está assim: quando um político não cumpre a lei não há consequências. Muda-se a lei. Marcelo acaba de vetar esta pouca vergonha. De uma maneira ou outra, o mais provável é aparecer uma safa “legal” qualquer para aquele “bando dos seis”.

Este é um tempo de blues: 

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