Bu! Bu! Quem tem medo de Buñuel?
Tristana, de Luis Buñuel, 1970
D. Luís, estou triste! Assim, desembainhado,
já não posso tocar, sequer, na Alcoforado.
E era ela, por Deus, o mais vero fantasma
das minhas noites de suor e asma.
Bem antes de Viridiana, ela vinha e dizia:
«O trunfo é copas. Começa a jogatina!»
«O trunfo é paus!», era o que eu respondia.
E por paus e por copas a gente se entretinha.
Ainda Tristana estava por nascer
já eu provara o gosto de pecar e de o saber.
Da liberdade o fantasma a Mariana erguia
quando, na minha cama, do burel se despia.
D. Luís, estou triste e a comer figos secos,
enquanto os catequistas engrolam os seus credos
e os copistas já vendem, pela cidade,
vistas a cores da «Única!» realidade.
Ó meu Empecinado, o da eterna guerrilha,
que podengos te metem o testículo na v’rilha?
Que sacristas descobrem que a tua liberdade
não liberta ninguém, que é uma falsidade?
Alegre, D. Luís, que esses tais já se somem.
A tua liberdade é cor do homem!
Alexandre O'Neill
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