de "zanaga" do porto brandão — semana pícara #6

 

Fotografia de Nicolás Muller



Gosto muito de quintilhas

(e de quartilhos na Taberna da Maluca)

E todas as presilhas

Que sustêm na baiuca

Alívio de tripa e de virilha.


Mas, ah!, hoje fui poeta.

Ultra moderno, neo e experimentalista

(tenho dias assim),

Comi maçã reineta

Enquanto escrevi quinhentista.


Deu­-me logo a volta à tripa

Tanta tarefa conjunta;

E por conta do laxante

(em mares antes sossegados)

Não fui além de Fonte da Telha.


Estava boa a maçã,

Segue um exemplo:


Se tivesse um olho ao peito

(aquando do Armando na taberna)

Ou de quando em vez levasse no estreito

(como o Xavier do Seixal)

E não perdesse uma cultural


No centro em Belém com meus poemas

(todos eles “malditos” em papel couché),

Outro galo cantaria na colóquio­‑tv­‑rádio

(mesa redonda e parlapié),

Sem esquecer a “Voz da Trafaria”.


Mas regresso a casa,

Hoje deu polvo e camarão, está feito o dia.

Insensível ao pôr-­do­-sol

E irritado como um cabrão, digo:

Que se foda a poesia!

Nunes da Rocha



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