Ah, falemos da brisa
Eu dizia:
«Nenhuma brisa é triste»,
e procurava água, lábios,
um corpo
onde a solidão fosse impossível.
Mas quem sabe dessa música
cativa nos meus dedos?
E depois, como guardar um beijo,
mar doirado ou sombra
desolada?
Recordava um rio,
álamos,
o sabor nupcial da chuva,
tropeçava em lágrimas e soluços
e lágrimas, e procurava.
Como quem se despe
para amar a madrugada nas areias,
eu dizia: «Nenhuma brisa é triste,
triste», e procurava.
E procurava.
Eugénio de Andrade
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