Tudo quanto é macio os meus ímpetos doma — semana pícara (#1)

Fotografia de Andrey Zvyagintsev

 

Particularidades 2


Tudo quanto é macio os meus ímpetos doma,

e flexuosa me torna e me torna felina.

Amo do pessegueiro a pubescente poma,

porque afagos de velo oferece e propina.


O intrínseco sabor lhe ignoro, se ela assoma,

no rubor da sazão, sonho-a doce, divina!

gozo-a pela maciez cariciante, de coma,

e o meu senso em mantê-la incólume se obstina...


Toco-a, palpo-a, acarinho o seu carnal contorno,

saboreio-a num beijo, evitando um ressábio,

como num lento olhar te osculo o lábio morno.


E que prazer o meu! que prazer insensato!

– pela vista comer-te o pêssego do lábio,

e o pêssego comer apenas pelo tato.
Gilka Machado 




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