Sportinguices, maluquices, claquices*

* Hoje no Jornal do Centro aqui

Rossio, Viseu, 11 de Maio
Fotografia Olho de Gato


1. Nestes dezanove anos que já leva o Olho de Gato, poucas vezes referi aqui o “meu” Sporting e, quando o fiz, foi sempre na brincadeira e depois de uma “declaração de interesses” a avisar os leitores de que era um “lagarto” de “leão” ao peito.

Recordo duas dessas vezes: 

em 2005, depois do Sporting ter perdido o campeonato porque Ricardo não chegou com as mãos onde o benfiquista Luisão chegou com a cabeça, encontrei uma “explicação científica” para aquele falhanço; na véspera do jogo tinha havido uma gigantesca explosão solar que originara uma  tempestade geomagnética de grau 5; essa tempestade de grau máximo estava a atingir o planeta em força à hora daquele fatídico jogo e foi ela que perturbou a impulsão do excelente guarda-redes leonino;

em 2008, depois de uma sucessão desastrosa de penáltis falhados, usei uma brincadeira do Inimigo Público: aqueles penáltis a nosso favor eram uma reles cabala para instabilizar psicologicamente a equipa, os homens do apito só os assinalavam porque sabiam que eles não resultavam nunca em golo.

Tenho pena de não ter escrito aqui, como devia, isto:

— «Sr. João Ferreira, compre uns óculos com as dioptrias certas!» Diria assim, desta maneira contida e educada, nunca atentaria contra a honorabilidade da mãe daquele árbitro que validou um golo de Ronny, do Paços de Ferreira, marcado descaradamente com a mão. Uma roubalheira que pesou no final da época 2006/2007: o Sporting ficou em segundo a um ponto do primeiro.

2. Já se sabe, todas as organizações correm um sério risco de escolherem um líder desastroso. Exemplos há muitos: o Benfica teve Vale e Azevedo, o PS, Sócrates, o PSD, o menino guerreiro, o BES, Ricardo Salgado. Até os países, uma vez por outra, arranjam presidentes chalupas: lembremos a Venezuela de Chavez e Maduro ou os EUA de Trump. 

É contra-intuitivo, mas é muito mais importante impedir que um líder faça o mal do que querer obrigá-lo a fazer o bem.

Felizmente, no Benfica, no PS, no PSD e nos EUA, os eleitorados acabaram por resolver os problemas. Na Venezuela, infelizmente, ainda não.

Regressemos ao Sporting. Ainda não há muito tempo, o Sporting contraiu uma doença estranha, e muito contagiosa, chamada Bruno de Carvalho. O clube virou uma casa de doidos com o poder na rua, ao ritmo dos posts marados do chefe no Facebook. 


Na sua fase terminal, em delírio, o homem confidenciou ao Expresso o seguinte: «sigo uma máxima: para ter sucesso, a primeira coisa é criar fama de maluco». Poucos dias depois desta entrevista — em 15 de Maio de 2018, faz hoje exactamente três anos — umas dezenas de claqueiros invadiram a academia de Alcochete e agrediram alguns jogadores. 

Aquele episódio traumático foi falado em todo o mundo. O Sporting ficou  ligado às máquinas. Felizmente, o médico Frederico Varandas conseguiu arranjar um tratamento para o clube. Mas, atenção!, o presidente sportinguista só conseguiu tirar os lagartos do manicómio em que tinham caído porque teve o cuidado de não dar ar nenhum à Juve Leo. 

Esta claque, nos festejos desta semana, foi mais uma vez tóxica. Esperemos que ao dano reputacional causado aos campeões nacionais não se venha somar, também, uma degradação dos números de covid.

O presidente do Sporting tem estado sozinho na sua guerra pela disciplinação das claques. Os políticos assobiam para o ar. Os outros clubes continuam a fingir que está tudo bem com aquelas agremiações. Não está. O caos que elas causam em todo o lado esteve posto no congelador durante a pandemia. Mas, como se viu esta semana, se não for feito nada, os problemas vão retornar em força.

 

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