O "estado social" é tudo e um par de botas
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 20 de maio de 2011
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Os nossos governos não prescindem do controlo da RTP, nem mesmo com o país em pré-bancarrota.Nesta desgraçada campanha eleitoral, a RTP até subiu de posto: antes era “serviço público” de televisão, agora é “estado social". É isso que Sócrates anda a comiciar: RTP, CGD, águas, tudo imprivatizável.
Mesmo com o país arruinado e tutelado por tecnocratas de olhos azuis, na retórica oficial o “estado social" é tudo e um par de botas, mesmo que sejam as botas daquela senhora do "prós e prós".
A RTP, para além da taxa de 2,25€ por mês que nos leva escondida na conta da luz, leva-nos ainda um milhão de euros por dia dos nossos impostos em "indemnizações compensatórias" do tal “serviço público” de televisão.
Esta “indemnização compensatória” dava para um aumento de 30 euros na pensão de um milhão de pensionistas. Mas os políticos preferem derretê-la na RTP que, note-se, faz exactamente o mesmo que a SIC e a TVI.
A medo, o PSD atira para um "tempo oportuno” a privatização de um “canal comercial” da RTP, mas passa ao lado do essencial: o serviço público de televisão e de rádio deve ser dimensionado para viver exclusivamente da taxa audiovisual, e sem publicidade.
No último Expresso, Carlos Costa Pina, secretário de estado de Sócrates, mostrou algum senso e defendeu a privatização da televisão do estado. Logo apareceu o fatal Lacão a bater-lhe nas orelhas.
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Na política as coisas estão assim: o PS defende “o que está”. O PSD quer mudar mas falta-lhe clareza estratégica. O CDS espera.
Já o PCP e o bloco vão perder votos porque, como lembra Faulkner em “Palmeiras Bravas”, entre a dor e o nada, as pessoas escolhem a dor.
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