Dez segundos *

* Texto publicado hoje no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 20 de Agosto de 2010


1. Os semáforos com contagem decrescente organizam de uma forma ideal o pequeno mundo de um cruzamento. É dada a toda a gente ao mesmo tempo a informação necessária, nem a mais, nem a menos. Todos recebem em tempo real a informação pertinente para que possam fazer o que mais lhes convém: acelerar, abrandar, travar, estugar o passo, ficar a ver uma montra.

Não há muito exemplos assim. Não é nada comum, perante um problema, estarmos todos - ricos, remediados, pobres, novos, velhos, bonitos, feios – todos neste paraíso de igualdade democrática. Cada um pode organizar-se como quiser até chegar a sua luz verde.

Por exemplo, posso perfeitamente parar o carro e, no meu “Magalhães”, dar seguimento à escrita deste Olho de Gato enquanto espero que esverdeça a entrada para a subida de Vildemoinhos, a meio da Avenida Cidade de Aveiro.

Em 67 longos segundos de vermelho, rápido como sou no teclado, consigo escrever muita prosa.

Depois, conseguir entrar na avenida é que é mais difícil: os cronometristas do dr. Ruas programaram os semáforos para ficarem só dez segundos no verde. É preciso um arranque à Schumacher e, logo a seguir, muita prudência nas passadeiras da avenida.

«Está quase... 4, 3, 2, 1... verde!»

Ups... o carro da frente, um carro de uma escola de condução, foi abaixo...
«Anda lá, anda lá, pá!...»

Não deu... escoaram-se os dez verdes segundos dos cronometristas do dr. Ruas e não entrou nenhum carro.... mais 67 segundos de seca...
Ainda dá para acabar esta crónica.

2. Em Agosto, nas nossas ruas, nota-se bem: os emigrantes têm dinheiro para gastar e gastam-no. Ao menos eles. Abençoados sejam!

3. Com a venda da Vivo, a PT não paga imposto de mais-valias. Os grandes accionistas também não. Os pequenos pagam. Com língua de palmo.
Porreiro, pá!

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