A realidade dança

Fotografia de Pagie Page 

Estas são as noites em que florescem lagartos,
ferozes, leves, como mãos verdes agarradas ao
teu pescoço;
a língua perdida, disparada como um raio
contra a pedra branca.

Mantenho-me imóvel,
não evito os movimentos atrozes
que se organizam contra ti.
Imóvel, sinto a electricidade a ser curvada
dentro de um fio, no
canto do quarto.

Uma maçã,
uma colher de merda,
o Diabo, curvado, toca violoncelo.

Ele cortou os meus cabelos,
enterrou-me nos arbustos, sem cigarros.
Ratos com olhos como lazers obser-
vam-me porque eu estou marcado.

Eu sei como a abelha treme
perto do furo;
eu respondo à pergunta que os néons fazem.

Uma maçã,
uma colher de merda,
o Diabo, curvado, toca o violoncelo.

Eles disseram
“Tirem já esse cão das salas brancas”.
Eu fechei-me no meu terror
e não cantei.
Veio a lua iluminar-me.

Estou preso com tesão no espaço.
As mãos chupam,
e puxa e vai e traz,
os salões de relva, a cúpula do céu,
muitos, muitos átomos,
a própria realidade dança.

O Diabo, curvado, toca violoncelo.



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