Sindicatos dos tempos modernos*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Charles Chaplin interpretou pela última vez a sua personagem de chapéu de coco, bengala e andar à pinguim, no filme “Tempos modernos”, de 1936. Nele, Charlot faz de operário fabril a fazer gestos repetitivos numa linha de montagem implacável.

Oitenta anos depois, nos actuais “tempos modernos”, muito trabalho penoso foi substituído por maquinaria, mas ainda há muita gente extenuada e cheia de tendinites nas estufas da agricultura intensiva, ao volante de camiões com ou sem matérias perigosas, em call-centers, nas fábricas, nas caixas dos hipermercados, nas obras, nas cozinhas dos restaurantes, nas limpezas.

2. Nos anos da primeira geringonça, as únicas lutas laborais com impacto foram impulsionadas por sindicatos independentes e críticos da CGTP e UGT.

A formação de um novo sindicato de professores, o STOP, obrigou Mário Nogueira a deixar-se de frescuras com o ministro da educação. As novas formas de financiamento das greves dos enfermeiros e a eficácia dos motoristas de matérias perigosas protagonizaram conflitos muito duros, diferentes do ramerrame dos sindicatos tradicionais.

A resposta do poder, como de costume, foi à bruta: auditorias manhosas à Ordem dos Enfermeiros, tropas a guiar camiões privados, ameaças de extinção do sindicato de motoristas, campanhas negras nos media e nas redes sociais...
Editada a partir de uma fotografia de Tatiana Costa e outra de Rui Gaudêncio
... contra a bastonária dos enfermeiros e o advogado do sindicato dos motoristas.

3. E agora, nos anos da segunda geringonça, o que é que vai ser feito pelos políticos para tentarem neutralizar estes sindicalismos modernos mais combativos?

A direita, claro, quer uma nova lei que restrinja o direito à greve. O CDS já manifestou essa vontade e Rui Rio não fechou a porta a essa hipótese. Mas a esquerda, apesar de estar com alguns tiques autoritários, vai ter vergonha de fazer isso. Vai optar por medidas legislativas e burocráticas que tornem mais difícil e labiríntica a criação e a vida destes sindicatos independentes.

Comentários

  1. Dois exemplos de discriminação e tiques de autoritarismo:

    https://www.publico.pt/2019/11/15/politica/noticia/autarca-independente-queria-socialdemocrata-psd-viseu-nao-deixou-1893778

    https://www.sabado.pt/portugal/politica/detalhe/regresso-de-manuel-monteiro-ao-cds-ainda-nao-esta-oficializado

    Dois exemplos de cidadãos independentes e cheiinhos de boa vontade, e ideias, para inovar, colaborar, refrescar, renovar a política nacional (no mínimo…) e não há vontade em os aceitar?
    Fónix, pá!

    Bamos lá criar um sindicato para tratar destes casos!

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