Vem-lobo!*

* Hoje no Jornal do Centro


1. Durante a silly-season deste ano, o comentariado luso atirou-se com fúria ao projecto de criação de um Centro Interpretativo do Estado Novo, em Santa Comba Dão.

Era muito fácil de prever. Uma semana antes de ter sido tornada pública a petição que abriu aquele circo mediático, já o autarca de Santa Comba Dão era avisado aqui, no Olho de Gato, que nenhum "fusível" podia "evitar fortes descargas eléctricas naquele simpático concelho onde nasceu um antipático ditador".

Aquela petição pôs as pessoas a assinar contra um "Museu Salazar" e não está previsto "Museu Salazar" nenhum. Como explicar tamanho logro? Terá sido má-fé? Incúria?

Não se sabe. Sabe-se é que um dos redactores da petição é "investigador" no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Bastava o homem ter telefonado aos responsáveis científicos do projecto, seus colegas do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da mesma universidade, para perceber que, ao contrário do que é mentido na petição, o que está para ali previsto será tudo menos "um instrumento ao serviço do branqueamento do regime fascista".

Esta inventona é mais um prego no caixão dos "antifascistas" profissionais que andam, há décadas, a gritar o seu "vem-lobo!" pífio.

2. Em 16 de Março de 2017, no Observador, José Carlos Fernandes, num excelente texto intitulado "Um mundo cheio de porcos fascistas?", analisa com profundidade esta tendência actual para ver fascismo em todo o lado.

Imagem daqui
O autor começa por lembrar que os muito sociáveis macacos-vervet vocalizam alarmes de perigo diferentes consoante o predador à vista é uma serpente, ou um leopardo ou uma águia.

Aqueles macacóides têm rigor semântico nos alarmes. Quando gritam "águia!" está mesmo perigo a vir do céu e o bando corre a abrigar-se.

Já nos humanóides, o grito "vem-lobo!", de tão gasto, não vai ser ouvido por ninguém quando houver mesmo um perigo real para a democracia.

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