Pedras e maçãs

Fotografia de Vale Zmeykov


Perto do tempo do coração rochas e cristais são mais rápidos
os icebergs se soltando das calotas polares
não conhecem o vapor subindo da pele
quando entro com o corpo todo na água
não me pergunto nem esqueço quem sou
pedra de nascente, as gotas da chuva caindo
ontem eu abri a janela e deixei chover no quarto.
Deixar chover no quarto é uma das minhas formas de ser irregular
já imaginei outras contravenções — na realidade meu máximo
foi pular catracas no metro de Budapeste
incentivada pelo diretor do museu nacional de arte Húngara
um senhor de 86 anos que declamava poemas eróticos falando de pêssegos
em italiano quando nos despedimos garantiu que estava apaixonado por tudo
o que ele não entendia de mim — e que era: tudo
doce e pitoresco, ajudá-lo pra que não tropeçasse
sem ainda entender a ingenuidade do seu fascínio pueril
ensinava algo sobre o viço das maçãs crescendo no quintal
o rosado nas bochechas que ainda não perdi.
Júlia de Carvalho Hansen










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