Viriato*

* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 18 de Setembro de 2009 

Na Hispânia, as coisas continuavam acesas entre os romanos e os lusitanos. Guerras, saques, fome, miséria. Roma desesperava.
Faltavam ainda 150 anos para Jesus Cristo nascer quando o pretor Sérvio Sulpício Galba fez saber por toda a Lusitânia que iria distribuir terras novas e férteis. Juntaram trinta mil lusitanos em idade de pegar em armas e Galba, hábil tribuno, fez-lhes um discurso a anunciar leite e mel, jurando desejar respeitá-los e viver em paz com eles.

A seguir, Galba dividiu os lusitanos em três grupos a pretexto de assim ser mais fácil a distribuição das terras.

Depois, chegou-se ao primeiro grupo e pediu-lhes que entregassem as armas. «Entre amigos não há lugar para armas», disse. A seguir, encurralou-os numa cerca e mandou-os matar. Os lusitanos em vão lhe recordaram as juras de amizade e desesperaram daquela traição. Galba, implacável, fez também o mesmo ao segundo e ao terceiro grupo.

Foram assassinados nove mil lusitanos, vinte mil foram vendidos como escravos e mil escaparam. Um dos que escapou foi Viriato que nunca mais se esqueceria ou perdoaria a desonrosa conduta de Galba.

Viriato, a seguir, assumiu o comando da resistência dos lusitanos, instalando o seu refúgio no Monte de Vénus, actual Sierra de San Pedro, na província de Cáceres.

Esta é a principal tese de “Lusitanos no Tempo de Viriato”, de João Luís Inês Vaz, livro escrito com excelente sentido da narrativa e que se lê de um fôlego.

A pesquisa histórica de Inês Vaz desconecta Viriato de Viseu.

É assim: enquanto Almeida Fernandes “põe” D. Afonso Henriques em Viseu, Inês Vaz “tira” Viriato de Viseu.

Não me canso de repetir: não há nada mais instável que o passado.

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