Jardins Efémeros*
* Publicado hoje no Jornal do Centro
1. Está quase a acabar o Verão das festas e dos festivais. Há que fazer os necessários balanços.
À sétima edição, Viseu teve a primeira grande impaciência com os Jardins Efémeros (JE). As pessoas não perceberam a oliveira colocada em frente da estátua de D. Duarte e acharam incipientes os tijolos que foram lá postos a deslado. De facto, aqueles tijolos não tinham ponta por onde se lhe pegasse, mas importa não deitar fora a criança com a água do banho.
Num ensaio de 1981, George Steiner lembra que "um poema reservado para a academia e para o 'explicador' é tão mudo quanto um 'Stradivarius' fechado na estante hermética de um museu."
Os JE têm tratado bem da necessidade de um objecto artístico não ficar hermetizado na academia (entendida como grupo iniciado nos códigos e nos ritos das missas artísticas). Os JE têm um bom currículo na criação de canais para que as artes cheguem ao grande público. O problema é que a peça da oliveira precisava mesmo de um "explicador". Haver essa necessidade já foi mau. Não ter havido um "explicador" conciso e claro piorou as coisas. Daí a impaciência que foi visível na cidade.
2. Depois dos dois anos iniciais a ganharem experiência, os Jardins Efémeros tiveram duas edições dedicadas aos problemas da cidade: em 2013, o ano em que o festival foi mais original e interessante, foi a intervenção na Rua Direita de cima a baixo; em 2014, foi o vinho do Dão. Os dois anos seguintes foram de espuma dos dias: em 2015, os JE viraram-se para os problemas da dívida (o We Are Not a Loan, o OXI grego); em 2016, a "Europa" e as tensões soberanistas.
Este ano, os JE já não tiveram subtexto interventivo nenhum. As suas ideias "socioculturais" perderam o "socio".
Os JE já não tratam, tão pouco, de Viseu. São agora, e só, um excelente festival de artes experimentais, que, ao se ter desterritorializado, criou excepcionais e merecidas condições de exportação.
1. Está quase a acabar o Verão das festas e dos festivais. Há que fazer os necessários balanços.
Fotografia Olho de Gato, post Magritte nos Jardins Efemeros, 9-7-2017 |
À sétima edição, Viseu teve a primeira grande impaciência com os Jardins Efémeros (JE). As pessoas não perceberam a oliveira colocada em frente da estátua de D. Duarte e acharam incipientes os tijolos que foram lá postos a deslado. De facto, aqueles tijolos não tinham ponta por onde se lhe pegasse, mas importa não deitar fora a criança com a água do banho.
Num ensaio de 1981, George Steiner lembra que "um poema reservado para a academia e para o 'explicador' é tão mudo quanto um 'Stradivarius' fechado na estante hermética de um museu."
Os JE têm tratado bem da necessidade de um objecto artístico não ficar hermetizado na academia (entendida como grupo iniciado nos códigos e nos ritos das missas artísticas). Os JE têm um bom currículo na criação de canais para que as artes cheguem ao grande público. O problema é que a peça da oliveira precisava mesmo de um "explicador". Haver essa necessidade já foi mau. Não ter havido um "explicador" conciso e claro piorou as coisas. Daí a impaciência que foi visível na cidade.
2. Depois dos dois anos iniciais a ganharem experiência, os Jardins Efémeros tiveram duas edições dedicadas aos problemas da cidade: em 2013, o ano em que o festival foi mais original e interessante, foi a intervenção na Rua Direita de cima a baixo; em 2014, foi o vinho do Dão. Os dois anos seguintes foram de espuma dos dias: em 2015, os JE viraram-se para os problemas da dívida (o We Are Not a Loan, o OXI grego); em 2016, a "Europa" e as tensões soberanistas.
Este ano, os JE já não tiveram subtexto interventivo nenhum. As suas ideias "socioculturais" perderam o "socio".
Os JE já não tratam, tão pouco, de Viseu. São agora, e só, um excelente festival de artes experimentais, que, ao se ter desterritorializado, criou excepcionais e merecidas condições de exportação.
Comentários
Enviar um comentário