Pitta, o recensador recensurado
A escrita de Eduardo Pitta é muito conhecida no blogue Da Literatura (o mais socratista dos blogues).
Ele assina também bastas recensões no Ípsilon, onde se percebe a sua especialidade — em Portugal, ele é "o" crítico encartado da literatura gay.
Eduardo Pitta acaba de publicar "Desobediência", uma antologia da obra poética que foi publicando entre 1971 e 1996, uma antologia em que o antologiado é, ao mesmo tempo, o antologiador.
David Teles Pereira, no Ípsilon de sexta-feira santa, arrasa "Desobediência".
Alguns excertos:
— aliterações mal executadas: “ontem choveu chuva cinza”, “e a volúpia volatiza-se” ou “Verde de excessos/ excedidos e excessivos, em Poros.”;
— imagens gastas ou banais: “silêncio de paredes/ brancas e esquecidas”;
— paradoxos muito pouco exigentes: “Audível/ o silêncio pressagia/ naufrágios” ou “Tamanho ímpeto de silêncio/ fazia imenso barulho”;
— enunciações inconsequentes ou postiças: “Deixara em Edinburgh três irmãs,/ solteironas todas, e todas, como ela, enfermeiras/ no front norte-africano, sob Montgomery./ Retornava a York, aigrette na capeline/ e um fundado desprezo pelo nosso Observer.”.
"Desobediência" inclui também uma “marginália crítica seleccionada” em que Eduardo Pitta dá prioridade às críticas positivas que foram saindo sobre a sua obra.
Ora, anexar um molho de críticas "quase sempre num sentido elogioso" numa antologia própria "não lembra ao careca", como costuma dizer o professor Marcelo.
David Teles Pereira chama-lhe «exercício auto-congratulatório pouco compreensível em alguém que exerce, ao mesmo tempo, actividade enquanto crítico literário.»
Caso para dizer: o fazedor de recensões saiu recensurado.
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