Viseu “não foi pró Maneta” *
* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui
Como vimos na semana passada, durante as invasões francesas, tivemos duas «revoluções»: a de Arcos de Valdevez e a de Viseu, a primeira muito subversiva, a segunda nem por isso. Em Viseu, os protagonistas populares, chegados ao poder, apelidaram-se de “Junta dos Prudentes” e trataram de devolver depressa o mando da cidade ao bispo.
Esta “prudência” viseense teve mais um episódio naquele ano mas, primeiro, vejamos quem foi o Maneta e o que ele fez na Guarda.
Na sua “História Geral da Invasão dos Francezes e da Restauração deste Reino”, publicada logo em 1811, José Accursio das Neves descreveu a criatura em pormenor.
Por exemplo, na Guarda, Louis Henri começou por dizimar as milícias locais que o atacaram e a seguir foi tudo a eito, matou “velhos, aleijados, mendigos”, freiras; saqueou e queimou todas as casas. Na Guarda “foi tudo pró Maneta”.
Era assim em todo o lado, mas em Viseu foi diferente**. Quando souberam que ele se estava a aproximar, as autoridades da cidade reuniram-se “para se decidir se havião de resistir-lhe, ou deixallo entrar como amigo”. O general Florencio José Correa de Mello votou “pela resistencia” e “o vereador mais velho foi da mesma opinião; mas ficárão vencidos em votos, porque se oppozerão todos os mais.”
Em conformidade, fez-se uma “recepção amigavel” a Loison, que acampou as suas tropas “fóra da cidade, no campo da feira”. O homem “aquartelou-se na casa do General” Florencio e mandou “fazer a barba por hum barbeiro da terra”, embora, à cautela, durante o acto, “dois soldados” tinham “apontadas as baionetas para o barbeiro”.
No dia seguinte, o Maneta “partio, sem fazer hostilidade alguma, tendo pago toda a despeza, que as suas tropas tinhão feito.”
Viseu “não foi pró Maneta”.
-------
** A primeira vez que li esta história da pernoita de Loison em Viseu foi numa publicação de Alexandre Azevedo Pinto, em 4 de Outubro de 2018, no grupo do Facebook "Viseu Melhor"
Comentários
Enviar um comentário