De veres
De veres o meu lugar. De me veres só
Apagando a luz do quarto cada noite
No escuro a respirar como um clarão.
De me veres do lado exterior
Muro, fenda no muro e sem força
Para esperar.
De te hospedares em mim. De descobrires
A posição da árvore fixa no crescimento
Da árvore que agora sou circulando com dificuldade
Do fruto cortado
Para ocupar as mãos.
De o veres empunhado como arma
Para afastar o medo.
De veres a casa. De estares à minha beira e no quarto ao lado
Vazio, no vazio búzio
De ocupares o vazio para o libertar.
De veres a pedra branca dos meus olhos
Seixo dos rins
Pedra polida de tanto rebentar
Primavera de si mesma.
De anunciares em silêncio
O nada que salva a minha mão perdida
Remo à superfície teimando contra
O peso da âncora de fechar os olhos
E inclinar
O corpo afogado.
De perdoares. Por ter-me apagado tão longe de te ser luz
De te ser lâmpada horas e horas, à noite
E no Inverno.
Da transparência que engana
A presença do mundo
Da obediência, da aceitação, do enjoo.
De poderes abrir a vida como quem abre a casa
Da casa que tu salvas com um sinal de sangue.
De poderes arrastar a mesa para o centro da cozinha.
De seres para ordenar colinas
Campo cultivado
Encosta e declive da minha vida cobrindo-se de erva.
De seres a bênção, o alimento e abundância
E vasto
Administrador de água em redor dos pés
Dos calcanhares, dos tornozelos
Mendigo, servo, milionário no milagre.
De acordares da espera
Da doença, arbusto que minga sem raiz
Da tua mão - a tua mão pode curar-me -
Pequeno movimento
De o seres às minhas redes
Bunho e bulir
Das folhas na paisagem.
Da casa na paisagem. Estou por terra e vejo já do alto
Com a saliva a saber-me
Ao bolor do chão.
De estar sentado e inútil — como se tudo à minha volta me cegasse —
Apodrecendo a cadeira um odor da terra — como a tempestade —
Cansado, cansado.
Sem força para ver a tua face.
Daniel Faria
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