Fervenças *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 1 de Agosto de 2014

Desde que viu o seu lugar em risco, António José Seguro pôs o PS em fervura máxima e quere-o assim durante o máximo de tempo possível. Não contente por ter atirado a solução da liderança para finais de Setembro, Seguro saiu-se agora com umas incendiárias e inúteis eleições para líderes transitórios das distritais. Para o ano, terá de haver nova escolha para esses lugares.

Esta fervença segurista está a fazer estragos pelo país fora. No distrito de Viseu, João Azevedo, depois de alcançar umas nunca atingidas onze câmaras socialistas, preparava-se para uma reeleição tranquila e consensualizada. Teve azar. Apoiou Costa. Pagou o preço. Foi ebulido.
Fotografia Olho de Gato

A inesperada candidatura de António Borges — logo pressurosamente carimbada por Miguel Ginestal, chefe de gabinete de Seguro —, além de atropelar o desprevenido João Azevedo, trouxe para a luz a batalha que decorria na penumbra por um lugar elegível na lista de deputados das próximas legislativas. Àquele movimento "miguelista", Acácio Pinto tinha que responder. Respondeu indo a jogo.

Ora, esta luta, além de inoportuna, parte de um equívoco. Será que os líderes distritais têm o mesmo poder sobre as listas de deputados que tinham antes? Não parece. Agora há primárias.

Em entrevista a este jornal, António Borges (de um modo meio enrodilhado) e Acácio Pinto (mais claro) manifestaram preferência por uma escolha fechada a militantes. Uma escolha assim agrada ao aparelho mas é um tiro no pé.

Ninguém compreenderá que, depois de o candidato socialista a primeiro-ministro ser escolhido em primárias abertas a militantes e simpatizantes, a escolha dos deputados seja feita de uma forma fechada.

Resta dizer um óbvio: se o PS apresentar em Viseu acartadores das malas dos chefes, sem pensamento próprio nem vida fora da política, tem um dissabor nas urnas. Em 2015, pode dizer adeus ao terceiro deputado.

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