António Costa*

* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui

1. Como era previsível, António Costa lá conseguiu um emprego muito bem remunerado na “Europa”: vai ser presidente do conselho europeu pelo menos até meados de 2027.

Fotografia de Tiago Miranda (daqui)
Isso significa que a esquerda vai ter que arranjar um plano B para defrontar, nas presidenciais de Janeiro de 2026, o almirante das vacinas ou o comentador da SIC dos domingos à noite ou o comentador da TVI à mesma hora.

Afastado Costa das próximas eleições presidenciais, e não sendo provável que António Guterres queira suceder ao seu amigo Marcelo, mais a mais sabendo-se que o seu mandato como secretário-geral da ONU só termina no final de 2026, a esquerda corre o sério risco de ficar fora da corrida se optar por uma candidatura “unitária”, com retórica paleolítica, tipo “Sampaio da Nóvoa”.


2. António Costa foi primeiro-ministro de 26 de Novembro de 2015 (dia em que ligou os motores da geringonça) até 7 de Novembro de 2023 (dia do terramoto político chamado Operação Influencer).

Melhor destes oito anos:

(i) mesmo no lugar com mais poder do nosso regime, António Costa nunca foi autoritário, respeitou sempre a liberdade, aguentou estoicamente a pancada da oposição, dos media e das redes sociais;

(ii) finalmente, tivemos governos de contas certas, com superávites em 2019 e 2023, e consequente diminuição da dívida pública; inédito na terceira república.

Pior destes oito anos:

(i) Degradação dos serviços públicos (generalizada, especialmente sensível no SNS) e centralismo extremo (o núcleo duro do poder costista migrou da câmara de Lisboa para o governo, mas manteve o “chip” alfacinha);

(ii) Não recondução de Joana Marques Vidal: em 2018, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa substituíram uma boa Procuradora-Geral da República por... Lucília Gago (queriam uma PGR acomodatícia, saiu-lhes um bumerangue incompetente);

(iii) António Costa, sempre que pôde, deu gás a André Ventura, para, com essa manobra, retirar oxigénio político e mediático ao PSD. Isto é, o ex-primeiro-ministro imitou o que François Mitterrand fez a Le Pen, em França, há umas décadas. Este maquiavelismo socialista deu mau resultado em terras gaulesas. Por cá, para já, deu 50 deputados ao Chega.


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