JE *

* Texto publicado num suplemento do Jornal do Centro dedicado aos Jardins Efémeros há exactamente dez anos, em 11 de Julho de 2014


1. Os Jardins Efémeros (JE) não são efémeros. Efémero está fechado no presente. Efémero não tem passado nem futuro.


"Whatever Works”, de Woody Allen, Julho de 2010, CCV
Ora, os JE têm passado: são devedores directos do Cine Clube de Viseu quando este, a partir de 2009, passou a pôr gente, muita gente, na Praça D. Duarte, a ver cinema.

Ora, os JE são futuro: mostram que há sempre uma ponta para pegar num problema, seja a Rua Direita, seja a divulgação do vinho do Dão, seja o que vier.

2. Cultura é "roupagem da natureza". Cultura é humano a revestir o bruto.

Ora, os JE põem plantas em cima do granito bruto. Fazem da natureza roupagem. Naturalizam a cultura que vai acontecer.

3. Décadas de rendas congeladas e desleixo político tiraram dos centros das cidades pessoas, prestígio, comércio, lazer. Em suma: poder.

Ora, os JE têm sinalizado o que vai acontecer no país e em Viseu — o regresso de vida aos centros das cidades.

4. Durante décadas, uma casta corrupta executou (isto é, matou) milhares de milhões de euros comunitários. Essa casta está agora a encher a boca com as palavras “regeneração urbana”.

Durante a provável gentrificação que vai acontecer no centro de Viseu, importa impedir “uma extensão do espaço privadamente organizado à custa do espaço público” (para citar Innerarity).

Ora, os JE têm feito o movimento contrário — têm trazido espaços privados para a fruição pública. Como nada de estimulante sobre estes assuntos foi dito nas últimas autárquicas, pede-se aos eleitos locais, aos da situação e aos da oposição, para porem os olhos neste modo de fazer.


Selfie de Liliana Rodrigues

5. O ícone dos JE deste ano é “O CORAÇÃO DA CIDADE” criado por Liliana Rodrigues para uma empena na Rua Alexandre Herculano. 

Também ele não é nem pode ser efémero.

Sandra Oliveira, há que pensar nos JE'2015.

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