Brincadeiras e democracia*
* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui
As gerações mais novas dão menos valor à democracia do que a gerações mais velhas. Há cada vez mais evidência que este facto está a contribuir para o crescimento eleitoral de políticos e partidos autoritários.
O que nos deve animar é que, entre humanos, nada é definitivo e, como escrevi aqui no início de Abril, este “pêndulo geracional”, agora a afastar-se da liberdade, há-de regressar.
Este afastamento jovem dos valores liberais é tratado num dos últimos textos de Patrícia Fernandes, no Observador, onde aquela professora da Universidade do Minho analisa um ensaio de Jonathan Haidt e Greg Lukianoff, publicado no The New York Times, em 2018, intitulado “Como brincar à nossa maneira para uma melhor democracia”.
Nele é explicado que, nas últimas décadas, por boas e por más razões, as crianças deixaram de estar sozinhas, têm sempre um adulto a supervisioná-las. Já não há, nas ruas dos nossos bairros, crianças a brincar umas com as outras, em jogos escolhidos e dirigidos por elas. Elas têm muitas, por vezes demasiadas, actividades escolares e extra-escolares, mas não confundamos aulas de violino ou treinos de futebol com “brincadeiras livres”. Jogo de futebol livre é aquele em que são os putos que arranjam as equipas, definem tácticas, fazem “cumprir as regras”, resolvem “disputas sem a ajuda de um árbitro”, correm “pequenos riscos”.
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É esta ecologia social entre pares que permite aos jovens resolverem conflitos, aprenderem a cooperar, adquirirem “competências essenciais para a vida”. Se, para tudo e um par de botas, um miúdo é habituado a recorrer a uma autoridade (parental ou professoral ou outra), quando crescer ele vai delegar a sua vontade num político autoritário.
Para bem da nossa democracia e, acima de tudo, para bem das nossas crianças, deixemos que elas brinquem muito e que brinquem em liberdade.
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