O pêndulo geracional*
* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui
Confesso que não fixei o nome dos autores de um texto muito divertido que li no Público há uns anos. Lembro-me que era um colectivo de académicos saídos da madraça woke de Boaventura Sousa Santos, ou de outra equivalente, que gastou metade dos parágrafos a discorrer sobre “a culpa do homem branco” e a outra metade a malhar nos boomers, perdão!, nos velhadas que fazem opinião nos media portugueses.
Ainda mais do que proselitar os dogmas da “teoria crítica da raça”, o que aqueles jovens “mamadous” queriam era as plataformas dos “daniéis-oliveiras” e dos “pachecos-pereiras”. O costume: o novo quer sempre substituir o velho.
E a verdade é que os libertários hedonistas do Maio de 1968 — cujos valores se espalharam no mundo e criaram a globalização — estão mesmo a sair de cena. Foram longevos, mas agora a ceifeira não pára.
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Como sempre, quem mais vai sofrer com esta rarefação da liberdade são as mulheres, atacadas pela nova religião woke (que até já põe calmeirões “trans” a derrotá-las no desporto feminino) e atacadas pelos antigos fundamentalismos religiosos (que nunca desistem de lhes querer controlar o corpo e impedir as interrupções voluntárias de gravidez).
Não há aqui nada de novo, é só o pêndulo do eterno “conflito de gerações”, dos novos a tomarem o lugar dos velhos:
— há meio século, os filhos combateram os valores dos pais (que eram puritanos, isto é, hipócritas) e ganharam porque tinham a seu lado a biologia;
— agora os filhos estão a combater os valores dos pais (que não são puritanos, mas já estão gastos) e vão ganhar porque têm a seu lado a biologia;
— os filhos destes filhos, daqui a uns anos, vão fazer oscilar outra vez o pêndulo para o lado da liberdade.
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