Metafísica do encontro
Se não tivesse sido a esquadra americana, que fez esgotar a cerveja na cidade, eu não teria ido à outra banda beber um fino…
Não nos teríamos encontrado, por conseguinte.
Mas, também, se o teu isqueiro não se tem avariado e a tua voz não fosse - até na adversidade! - manselinha (- “Por favor…” Nas comissuras dos lábios, tanto destino cruzado! - “Muito obrigado, Senhor…”) sequer teria reparado em ti…
Qual é a explicação da tua voz?
Herdaste-a de teus pais?
De teus avós?
De que Senhora Aónia és descendente?
“Poeta desempregado…”, espalham para aí os teus.
Mas se não fosse um poeta… quem te houvera de amar, ó minha feia?
E empregado… como é que eu poderia, às quatro horas da tarde - numa quinta-feira - estar, digam-me lá, na outra banda?
Os marujos… e se eles eram cupidos… (crescidos, americanos, vestidos à marinheira…) que nos feriram com uma seta, teleguiada, certeira…
Foram as manobras da NATO…
Foi um isqueiro empanado…
Foram as voltas do Mundo…
Foi uma loucura (dizem os amigos)… que engendrou — cegamente — o nosso encontro em Cacilhas.
Coisa tão bela e absurda como o aparecimento do Homem!
José Fernandes Fafe
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