Europeias (#3)*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 30 de Maio de 2014


Fotografia original de Enric Vives-Rubio, daqui
No passado domingo, estiveram mais pessoas a ver a noite eleitoral nas televisões do que as que foram votar. Valeu a pena: logo às vinte horas aconteceu um prodígio nunca visto. Francisco Assis proclamou logo ali a vitória apoteótica do PS e incensou o supremo génio político do grande líder António José Seguro.

Assis, o imprudente. Na altura ainda havia só projecções que, como se sabe, costumam falhar quando há muita abstenção. Porque é que o cabeça de lista do PS, político experiente, se meteu naquela camisa de onze varas? Não se vê nenhuma razão boa para isso. Só más.

A cúpula segurista não vive neste mundo e nem reparou nos sucessivos tiros no pé que foi dando na campanha.

Repare-se: a campanha começou a dar destaque a Jorge Coelho, como se a ladroagem das PPP estivesse esquecida; a seguir, a campanha desfocou-se das europeias e apresentou oitenta compromissos (80!) de governo nacional; por fim, a cereja em cima do bolo — a "aparição" de Sócrates. José Manuel Fernandes, o último deputado eleito à direita, ficou, no mínimo, a dever um jantar de gratidão ao ex-primeiro-ministro.

O problema de António José Seguro já foi há muito tratado aqui: ele não age, só reage, ele está sempre à espreita do que “está a dar” e não do que é preciso. Dos “oitenta compromissos” de governo que apresentou, escritos num “politiquês” analfabeto, 32 aumentam o défice, 44 talvez-sim-talvez-não, e só 4 o diminuem. Estas “hollandices” dão likes no Facebook mas tiram credibilidade no país.

Portugal precisa de um primeiro-ministro capaz de fazer o que Pedro Passos Coelho não foi capaz: extinguir mesmo as redundâncias do estado, acabar com o sufoco e a ditadura fiscal, ter contas sãs que evitem a quarta bancarrota.

António José Seguro é bom homem mas, como se viu no domingo, não consegue mobilizar as pessoas para esse “suor e lágrimas” necessário. Os portugueses estão agora a olhar para António Costa.

Comentários

Mensagens populares