Obrar*

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 7 de Março de 2014


Já se circulou mais rápido e com mais facilidade nas nossas estradas. Em 8 de Dezembro de 2011, data em que foram activados os pórticos na A24 e na A25, a região sofreu um rude golpe na sua economia e na sua mobilidade. 
Fotografia Olho de Gato
Agora, ou se anda a 50 à hora em vias secundárias, ou se pagam dez cêntimos por quilómetro de portagem. Só nas deslocações para sul, no IP3, ainda se vai conseguindo andar a uma velocidade razoável e sem portagens.

Quanto mais nos aproximamos da data do fim do memorando, mais se ouvem os políticos do costume com a conversa do costume. Vem aí outra vez "obra pública". Desta vez “obrar” diz-se “infraestruturas de valor acrescentado". É paleio tecnocrático para mais-uma-corrida-mais-uma-viagem... a caminho da quarta bancarrota da terceira república.

O Jornal do Centro, há duas semanas, entrevistou o secretário de estado das infraestruturas, transportes e comunicações, o mangualdense Sérgio Monteiro, e fez-lhe as perguntas que havia a fazer sobre o assunto.

No que diz respeito ao IP3, depois da ridícula moção aprovada por unanimidade na assembleia municipal de Viseu a pedir uma via com “perfil de auto-estrada” sem portagens, o secretário de estado explicou: “perfil de auto-estrada sem portagem... isso não existe.”

Mas Sérgio Monteiro foi mais longe: disse que não há fundos comunitários ou nacionais para fazer a auto-estrada Viseu-Coimbra e que ela só era possível com privados a obrarem-na. E lembrou os mais distraídos: “se tivermos um IP3 requalificado e ao lado uma auto-estrada, ninguém vai pela auto-estrada e, portanto, não haverá privados que a queiram fazer.”

Este abrir de jogo do secretário de estado contém duas explicações: 
(i) explica por que razão a A24 e a A25 têm tão más alternativas; 
(ii) explica que, se for feita a auto-estrada Viseu-Coimbra, o IP3 será destruído.

Senhores políticos locais, parem com a laracha do “perfil de auto-estrada” sem portagens e não deixem tocar no IP3, a não ser para uma requalificação decente que poupe vidas.

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