Salomé
Só, na cisterna, João Batista em prece
sonha. Estende-se a noite silenciosa,
e, na nudez da solidão piedosa,
o desespero que o tortura esquece.
Dorme o palácio. Salomé ansiosa,
como pantera atroz que se enraivece,
em contorções se agita, e se estremece,
debruçada num tálamo de rosa…
Quase nua se ergue, e altivamente,
nos estos da volúpia que a devora,
desprende as tranças sobre a espádua ardente.
Treme-lhe o lábio aparecendo um beijo,
clama pelo Profeta, e anseia, e chora,
nas algemas da carne e do desejo!
Paulo Corrêa Lopes
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