Costumes*
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 21 de Fevereiro de 2014
A cidadania pós-materialista liga menos às querelas esquerda/direita e às questões económicas e mais às questões de identidade, dos estilos de vida e da liberdade enquanto ferramenta da felicidade individual.
Temas como o aborto, o casamento gay, a liberdade na net, a imigração, suscitam a atenção das pessoas e determinam o seu comportamento político. A decisão de voto já não é só motivada por questões de "pão com manteiga" e isso é especialmente visível nos sectores mais jovens, mais urbanos, mais instruídos e mais confortáveis financeiramente, sectores que apreciam pouco estruturas hierárquicas como partidos, igrejas ou sindicatos.
Quando, na pré-campanha para as legislativas de 2009, Manuela Ferreira Leite afirmou que “o casamento é para procriar” perdeu imediatamente as eleições. Sócrates nunca mais largou o assunto e massacrou-a.
Depois da bancarrota de 2011 e da vinda da Troika, perante a emergência financeira e económica, os tópicos pós-materialistas quase desapareceram do espaço público. Mas eles não perderam importância. Isso aconteceu por causa da crise mas, acima de tudo, porque Pedro Passos Coelho (PPC) não procurou reverter as políticas socialistas na área dos costumes.
O primeiro-ministro não fez a asneira de Mariano Rajoy e não esboçou nenhum gesto para restringir o aborto e o casamento gay conseguidos durante o socratismo.
Isto aconteceu por duas razões:
(i) PPC é o primeiro líder da direita portuguesa que é liberal nos costumes;
(ii) para quê abrir conflitos pós-materialistas quando a aplicação do memorando de entendimento é uma mais que suficiente fonte de sarilhos para o governo?
Ora, esta estratégia prudente de PPC acaba de ser atropelada pela proposta de referendo à co-adopção aprovada no parlamento e agora em tramitação no Tribunal Constitucional.**
A direita pode ganhar as legislativas de 2015. Se se meter num atalho tradicionalista, como fez a direita espanhola, perde-as de certeza. Até contra António José Seguro.
** Entretanto, já depois de escrito este Olho de Gato, o Tribunal Constitucional fez engasgar este referendo, dando hipótese ao PSD de fazer esquecer este erro estratégico.
A cidadania pós-materialista liga menos às querelas esquerda/direita e às questões económicas e mais às questões de identidade, dos estilos de vida e da liberdade enquanto ferramenta da felicidade individual.
Temas como o aborto, o casamento gay, a liberdade na net, a imigração, suscitam a atenção das pessoas e determinam o seu comportamento político. A decisão de voto já não é só motivada por questões de "pão com manteiga" e isso é especialmente visível nos sectores mais jovens, mais urbanos, mais instruídos e mais confortáveis financeiramente, sectores que apreciam pouco estruturas hierárquicas como partidos, igrejas ou sindicatos.
Quando, na pré-campanha para as legislativas de 2009, Manuela Ferreira Leite afirmou que “o casamento é para procriar” perdeu imediatamente as eleições. Sócrates nunca mais largou o assunto e massacrou-a.
Depois da bancarrota de 2011 e da vinda da Troika, perante a emergência financeira e económica, os tópicos pós-materialistas quase desapareceram do espaço público. Mas eles não perderam importância. Isso aconteceu por causa da crise mas, acima de tudo, porque Pedro Passos Coelho (PPC) não procurou reverter as políticas socialistas na área dos costumes.
O primeiro-ministro não fez a asneira de Mariano Rajoy e não esboçou nenhum gesto para restringir o aborto e o casamento gay conseguidos durante o socratismo.
Isto aconteceu por duas razões:
(i) PPC é o primeiro líder da direita portuguesa que é liberal nos costumes;
(ii) para quê abrir conflitos pós-materialistas quando a aplicação do memorando de entendimento é uma mais que suficiente fonte de sarilhos para o governo?
Ora, esta estratégia prudente de PPC acaba de ser atropelada pela proposta de referendo à co-adopção aprovada no parlamento e agora em tramitação no Tribunal Constitucional.**
A direita pode ganhar as legislativas de 2015. Se se meter num atalho tradicionalista, como fez a direita espanhola, perde-as de certeza. Até contra António José Seguro.
** Entretanto, já depois de escrito este Olho de Gato, o Tribunal Constitucional fez engasgar este referendo, dando hipótese ao PSD de fazer esquecer este erro estratégico.
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