Maquiavelismos e parasitismos*
* Hoje no Jornal do Centro, nas bancas e aqui
1. Em 15 de Abril, meio ano antes do colapso do governo, avisei aos microfones da Rádio Jornal do Centro: “a maioria absoluta do PS (...) está muito desleixada, julga encontrar no Chega uma espécie de seguro de vida; (…) os boys e as girls do PS (...) não se cansam de fazer asneiras; (...) eu não estaria tão seguro no lugar deles.”
Aquele meu precautério descrevia a camisa de onze varas em que António Costa, ainda em Lisboa mas com a cabeça já em Bruxelas, estava a meter o seu partido. Estava já tudo a abanar, mas a cúpula socialista imaginava-se ao abrigo das intempéries enquanto o furacão Ventura estivesse a fustigar o PSD.
Nos Açores, Vasco “Maquiavel” Cordeiro, depois da queda de Bolieiro, julgou que, para ganhar, chegava chagar as pessoas com o Chega. Viu-se o resultado: perdeu votos, perdeu mandatos e averbou a primeira derrota socialista em trinta anos.
Em Lisboa, António “Maquiavel” Costa passou os dois últimos anos a imitar François Mitterrand, o grande adubador da extrema-direita francesa e do clã Le Pen.
Fotografias de Yousuf Karsh (1981) e de Tiago Petinga (2022) muito subvertidas |
É verdade que, nos primeiros tempos, essa miséria moral foi boa para os socialistas franceses e foi péssima para a direita democrática e os comunistas. Depois, o monstro xenófobo e putinista dos Le Pen cresceu e o PSF transformou-se num zombie político.
2. No início deste mês, ao mesmo tempo que anunciava um lucro de 594 milhões de euros, João Pedro Oliveira e Costa, o CEO do BPI, queixou-se da constante “diabolização” que é feita aos banqueiros e lembrou que “os lucros não fazem dos bancos entidades parasitas”. O que é verdade. Desde que paguem os impostos devidos, é bom as empresas terem lucro, é mau terem prejuízo.
Depois dos anos de taxas de juros negativas, agora, com as subidas dos juros decretadas pelo BCE para combater a inflação, os bancos estão a bater recordes de lucros. Passada que está a tempestade, é mais do que tempo para os banqueiros:
(i) passarem a remunerar decentemente os depósitos e os seus trabalhadores;
(ii) acabarem ou, pelo menos, reduzirem as alcavalas e despesas de manutenção com que “parasitam” as contas dos clientes.
Vá por aí, João Pedro Oliveira e Costa, e depressa verá melhorar a imagem dos banqueiros e dos bancos.
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