Tempos *
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 5 de Abril de 2012
1. Em 1965, o professor Stuart Oskamp fez uma experiência com psicólogos clínicos. Foi dando, a cada um deles, sucessivos dossiers e em cada novo dossier era aumentada a informação sobre os pacientes.
Ora, percebeu-se que a qualidade de diagnóstico dos psicólogos não melhorou nada com o aumento de informação. Os dados novos recebidos só os puseram mais confiantes em relação ao diagnóstico inicial que eles tinham feito. A informação nova funcionou unicamente como reiteração.
Este processo de fechamento mental é muito usado na luta política. Vejamos o exemplo que está “mais à mão” — as próximas eleições internas no PS-Viseu.
Como é evidente, não há nenhuma grande diferença entre Filipe Nunes e Lúcia Araújo Silva — ambos são socialistas e ambos querem ganhar a câmara de Viseu em 2013.
Qual será, então, a melhor estratégia para ganhar as eleições no universo fechado dos militantes socialistas? A resposta é simples: eles devem fazer tudo para que cada militante/eleitor faça o seu “diagnóstico” o mais depressa possível. É que, como mostra o trabalho de Stuart Oskamp, uma vez formulado o diagnóstico “ele é o melhor”, quaisquer que sejam os disparates ditos ou feitos em campanha, dificilmente a posição muda para “ela é a melhor”. (É claro que “ele é o melhor” e “ela é a melhor” podem trocar de lugar na frase).
2. Na semana santa do ano passado, enquanto Sócrates mostrava ter ainda poder sobre o tempo tradicional e dava tolerância de ponto aos funcionários, a troika, que se mexe no tempo pós-moderno dos mercados, trabalhou sem parar durante as “férias” da Páscoa e obrigou o INE, em plena sexta-feira santa, a mudar o valor dos défices e da dívida pública de 2009 e 2010.
Isto é, naquele dia de evocação da morte de Cristo, o tempo pós-moderno e o tempo religioso foram ambos sacrificiais.
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