Os violinos de Dvorák

Fotografia de Louise Dahl-Wolfe


Assim trabalharei a mão, o linho, o cristal paralelo,

os violinos de Dvorák.

Pelos gumes da linguagem, um tecido frágil do lado

da pobreza

dizendo o caminho nómada, a candeia de cinza.


Algures, um coração ardente, um homem que escreve,

um rosto imóvel, apesar,

no silêncio abnegado, denso e radical.


E mergulho nesse dizer aparente, amplo e subjectivo,

erguendo lírios, teias rarefeitas,

loucos interstícios, pelo magma luminoso,

onde o ouro inacessível se propaga,

pelos pórticos de melancolia,


o tempo desconexo percorrendo o caminho das esfinges,

a terra febril,

dizendo as aves, o orvalho e as feridas inteiras,

como violinos,

na extensão dos seus arcos, das suas células secretas,

erguendo o cristal prospectivo,

a chuva, o turbilhão,

caminhos de mel, meteoros de água.

Maria do Sameiro Barroso 



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