A febre da república *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 13 de Abril de 2012

     

A primeira república durou 16 anos. A segunda salazarou-se durante 48 anos até 1974. A terceira república, que nos governa, vai em 38 anos e está doente e com febre alta.     

O país é, neste momento, um protectorado nas mãos dos credores. Os mais inconformistas estão a emigrar. Um estudo recente diz que já só 56% dos portugueses consideram que "a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo".     

Desconfia-se das instituições e essa desconfiança atinge até o próprio presidente. Esta periclitância do regime é conhecida dos estados maiores dos partidos embora não o digam em público. Era muito importante uma revisão constitucional que, pelo menos, assegurasse:   

— um mandato presidencial de sete anos não renovável (agora, nos primeiros mandatos, os presidentes pensam mais na sua reeleição do que no país);     

— redução do número de deputados e proibição do exercício do cargo em part-time;     

— permitir eleições e referendos em simultâneo e acabar com os prazos bizantinos à volta das eleições e da formação de novos governos (em 2010, o país apodreceu de PEC em PEC à espera das presidenciais).     

Se nada for feito, a terceira república pode acabar. Basta, numas eleições presidenciais, aparecer um candidato anti-sistema, com uma agenda anti-corrupção, uma retórica de sobressalto nacional e a defender um regime presidencialista.     


Há risco de isso acontecer em 2016 ou até mesmo antes se Cavaco, que nunca teve grande resistência psicológica, resignar. 

Só para dar um exemplo: Marinho Pinto é, caso o queira, capaz de corporizar esta proposta de ruptura e ter um fortíssimo impacto eleitoral numas presidenciais.    

Será que Passos Coelho e António José Seguro percebem que devem divergir o mais possível nas políticas mas porem-se de acordo na necessária reforma da terceira república?


 

Comentários

Mensagens populares