O último dia *
* Publicado hoje no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 27 de Abril de 2012
Escrevo esta crónica a ouvir O Último Dia do grande Ney Matogrosso...
... canção de “fim do mundo”, boa para dias de sobressalto, dias de oxalá-corra-tudo-bem. Todos temos dias assim.
Por um acaso que não vem agora ao caso, na segunda-feira de manhã puseram-me à frente uma televisão ligada no Jorge Gabriel da RTP1 com uma senhora de penteado rebuscado a dar consultas de astrologia. Foi um alívio ela não ter anunciado um apocalipse para os nativos de Sagitário. Ora, se o mundo não acaba para os sagitários, também não há-de acabar para os balanças ou para os aquários, para não falar nos gémeos que são múltiplos.
O tema “fim do mundo” está a ser sempre reciclado: de invasões de marcianos a desastres nucleares, de cataclismos climáticos a choques de planetas com a Terra, como o belíssimo Melancolia, de Lars Von Trier, um filme que devia ser obrigatório ver.
Todos esta ficção remete para o mais humano de nós — que carpe diem vou escolher antes do apocalipse? com quem vou querer estar de mãos dadas no fim?
4:44, O Último Dia Na Terra, o último filme de Abel Ferrara, protagonizado por Willem Dafoe e a bela Shanyn Leigh, pertence a este filão temático. Abel Ferrara diz que o fez por duas razões: porque apanhou um valente susto num voo sobre o Atlântico quando o avião começou a deitar fumo por todos os lados e por causa da crise sistémica global que estamos a viver.
Esta segunda razão é mais universal — todos sentimos no ocidente que há um mundo que está a acabar enquanto, do outro lado do espelho, os países emergentes sentem que há um mundo que está a começar.
Pense no que canta Ney Matogrosso:
Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
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