As eleições autárquicas de 26 de Setembro de 2021*

* No Jornal do Centro aqui 

As autárquicas de 2013 foram de castigo aos partidos (o povo estava zangado por causa da bancarrota e da troika), as de 2017 foram de reconciliação com os partidos (a geringonça estava em lua-de-mel, o povo fazia escapadinhas para alojamentos locais), as deste ano era suposto serem de fragmentação partidária.

Era esperável que os novos partidos ganhassem lugares aos  partidos tradicionais que têm pontificado nas câmaras e nas assembleias municipais. Não esqueçamos que esses órgãos são compósitos, funcionam em polifonia, a várias vozes, com oposição e situação.

Nestas autárquicas houve muitas coligações de geometria variável, entre grandes, médios e pequenos partidos, e com independentes à mistura, pelo que é difícil destrinçar as performances de cada um. Descoligados, o Chega elegeu 19 vereadores e 173 deputados municipais, a Iniciativa Liberal 26 deputados municipais e o PAN 23. As autarquias ficaram com um pouco mais de diversidade, mas ainda não aconteceu a fragmentação partidária que se previa.


Nacional

António Costa teve uma notícia muito má (a amarga derrota de Fernando Medina em Lisboa), uma notícia assim-assim (prossegue o declínio do PCP, mas Jerónimo de Sousa aguenta a pancada e a geringonça) e uma notícia muito boa (os resultados do PSD seguram Rui Rio, o inábil líder da oposição).


Distrito de Viseu

O PSD e o PS estavam empatados com 11 câmaras (havia duas independentes), agora os laranjas ficaram com 13 e os rosas regrediram para dez (ficou uma independente). Pedro Alves derrotou José Rui Cruz.

O PS caranguejou de 66 vereadores para 60. Quatro desses vereadores perdidos escorreram para grupos independentes, um para o PSD e um para o Chega, que elegeu António Silva em Mangualde.

O combate particular entre os dois partidos das guerras identitárias — o Bloco de Esquerda e o Chega — foi ganho pelo partido de André Ventura, que elegeu um vereador e sete deputados municipais (dois em Mangualde, um em Castro Daire, Lamego, Tondela, Sátão e Viseu), enquanto o BE não elegeu nenhum vereador e ficou reduzido a uma deputada municipal na capital do distrito.

O PCP desceu de quatro para três deputados municipais (em Armamar, Nelas e Lamego); perdeu Filomena Pires na assembleia municipal de Viseu, uma voz combativa que vai fazer falta naquele órgão.

Para terminar, resta dizer que o CDS, onde não foi debaixo da capa laranja, deixou de existir: há quatro anos elegeu três vereadores e 14 deputados municipais, agora, sozinho, zero. Nem conseguiu eleger um deputado municipal no concelho de Viseu, onde já governou. Não se percebe o bate-bombos satisfeito do Chicão.


Concelho de Viseu

Como previsto aqui há três semanas, no tira-teimas dos votos, Fernando Ruas elegeu cinco vereadores, João Azevedo quatro.

As eleições foram polarizadas entre o PSD e o PS. Os outros seis partidos ficaram todos no mesmo plano: entre o terceiro (Chega) e o oitavo (CDU) houve uma diferença de menos de mil votos.

Fotografia Olho de Gato

Fernando Ruas evitou dizer o que pensa do legado dos últimos oito anos de festas e festinhas. Não disse bem. Mal também não. Embora tivesse andado perto, quando, numa entrevista ao Diário de Viseu, se descaiu e confessou que só podia definir as obras que vai fazer depois de saber a situação financeira da câmara. Que, desconfia-se, não há-de ser famosa.

João Azevedo fez uma campanha esforçada e teve um bom resultado, da mesma ordem de grandeza do das legislativas de 2005, quando o PS obteve a única maioria absoluta da sua história.

Resta constatar que, em 2025, Fernando Ruas vai ter 76 anos, João Paulo Gouveia 48 e João Azevedo 50. Oxalá estejamos cá todos e com saúde para ver o que acontece.

Comentários

  1. Nesta tua análise completa e pormenorizada aos resultados eleitorais das Autárquicas de 2021, a falta de referência às juntas de freguesia evidencia, amigo Alex, a importância que elas têm para os políticos de cidade, de visão sobranceira à sociedade.
    Eu, que tive o privilégio de crescer com um pé na cidade e outro na aldeia, sempre fui muito sensível a alguns comentários, ou ausência deles, como é no teu estudo.
    Não alternava entre os sapatos de verniz e as socas conforme o local onde me divertia com os meus amigos, todos iguais em importância, o calçado era sempre o mesmo, modesto para um lado, talvez de luxo para o outro.
    Quando fui eleito em 2013 presidente de junta de freguesia, os meus amigos da cidade, e tenho muitos, como sabes, sorriam quando eu dizia que era presidente de junta. Eu acrescentava, de propósito: presidente de junta de uma freguesia rural. Aí era diferente, as reacções passavam pelo “Ah, que giro!” ou “A sério?!”.
    Agora, que não fui reeleito, olho para trás com muito orgulho e alguma vaidade ao ver a importância de um cargo destes, mais afastado da cidade mas extremamente próximo das pessoas.
    Mas vieram cá os da cidade, logo em Março, vieram os do PS, ou PSD, fui até contactado pelo CDS e IL. Mas não é esse, claro, o momento de glória. Foi sim, para mim durante oito anos, quando fui diariamente abordado por quem precisa de falar sobre os mais variados temas, todos de extrema importância para estes votantes que ditam, também, as câmaras, os vereadores e os deputados municipais que são o único objecto da tua análise.
    Ah, que giro!
    Temos de tomar um café! Grande abraço, meu amigo da cidade!

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    1. Paulo Menezes , meu grande Amigo

      Eu não sou "político da cidade", como dizes.
      🙂
      Já não sou político há muito tempo.

      Deixei a política para os mais novos em 2006, afastei-me, regressei à minha escola, aos meus alunos, aos meus queridos alunos, foram dez anitos de actividade, cheio de stress, alegrias e tristezas, a primeira coisa que fiz foi ajudar o Paulo Ribeiro Simões na primeira campanha do Sampaio, em 1996, a última coisa que fiz foi a campanha falhada do Soares de 2006.

      Em 2013, fiz uma pequena "revisitação" às batalhas autárquicas, ajudei na elaboração do programa cultural do Junqueiro, e fui a uma acção de campanha — uma só — a tua, da tua candidatura à freguesia de Torredeita. Só essa. Fiquei contente com a tua vitória, fiquei contente por ti, gosto muito de ti, e pelo Alberto Ascensão, um dos socialistas de Viseu que mais admiro e respeito.

      O que aconteceu em 2021 aí não percebi.

      Um dia tomamos um café e explicas-me.

      Quanto à "omissão" de foco de análise nas resultados eleitorais de freguesia também o sinto com desagrado.

      Há sempre que fazer opções. Este Olho de Gato tem quase 4000 caracteres, está no limiar da paciência do leitor comum. Se me debruçasse sobre as eleições para as juntas de freguesia, com a sua diversidade e complexidade, iria para os 6000 caracteres, não tinha leitores.

      Grande abraço

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  2. Nas autárquicas 2021 o concelho de Viseu teve algumas mudanças ou pseudo-mudanças nas freguesias.
    Houve uma em que o PSD mudou para o PSD, entenda-se.
    Um pseudo-PS.
    Confirma-se a teoria:em política "vale tudo", por vezes não se olha aos meios para atingir os fins. Claro que,nem sempre! Haverá bons exemplos por esse país fora.
    Já agora uma crónica muito bem conseguida.
    O concelho de Viseu tem 25 freguesias.Difícil análise da quantidade para uma melhor qualidade.
    As freguesias rurais são tanto ou mais importantes que as urbanas ou periurbanas. É onde existem mais carências e onde as populações precisam de mais apoio.
    Oxalá os próximos 4 anos sejam benfazejos, para melhorar a qualidade de vida das populações.

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