Petróleo *
* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 14 de Outubro de 2011
Desde que Raul Solnado descobriu petróleo no Beato que, ciclicamente, se fala desse jackpot no subsolo pátrio. O assunto, de quando em vez, invade a conversa nos media, nos barbeiros, nos táxis e demais ajuntamentos públicos, e põe as pessoas a sonhar.
E se, por baixo dos pés que caminham em Aljubarrota e Torres Vedras, jazessem, de facto, 486,8 milhões de barris de petróleo conforme a estimativa da Mohave Oil & Gas, a empresa canadiana que tem andado por lá a fazer buracos?
Que me lembre, esta sorte grande com cheiro a crude foi falada pela última vez há dois anos. Dizia-se na imprensa, em 2009, que Joe Berardo ia investir forte na Mohave. Coisa congruente: o homem tem jeito para a mineração, até achou um filão no Centro Cultural de Belém sem escarafunchar o chão.
Era bom, sem dúvida, achar-se petróleo em Portugal mas esse achamento, como tudo, também teria os seus problemas. Um deles é conhecido como “doença holandesa”. Quando, nos anos de 1960, a Holanda começou a vender em força gás natural proveniente do Mar do Norte, a sua moeda, o florim, valorizou-se muito o que fez com que as exportações holandesas perdessem competitividade. Uma riqueza que virou pobreza, a mostrar como o mundo é complicado.
A Noruega, que fica ainda mais lá para cima numa latitude cheia de “ética protestante”, aplica as receitas do petróleo num fundo cheio de cuidados éticos e preocupado em salvaguardar as gerações futuras.
Mesmo que apareça petróleo debaixo de Aljubarrota, não se fique com muitas expectativas. As nossas elites são predadoras e corruptas. Basta lembrar o que elas fizeram com o “petróleo” dos fundos comunitários e das privatizações. Se a Mohave acertar no sítio, vamos ter a “doença holandesa”, mas não a “ética norueguesa”.
N.B.: Já depois de ter enviado o artigo para o jornal, descobri que a Mohave regressou em Junho deste ano às perfurações. Oxalá desta vez ela acerte.
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