Síndrome D. Luísa de Gusmão*

* Hoje no Jornal do Centro aqui

Vídeo e podcast aqui


1. O Olho de Gato, além desta versão escrita, tem também, no Rádio Jornal do Centro, uma conversa com o radialista Paulo Lopes da Costa sobre os assuntos desta coluna. 

Na semana passada falámos sobre as duas debilidades do actual governo: os ministros fragilizados (fácil de resolver, basta remodelá-los) e a passagem para a oposição dos dezanove deputados do Bloco de Esquerda (movimento político que matou a geringonça e cujas motivações mais profundas tentei explicar).

A maior parte dos analistas pensa que Catarina Martins se pôs “ao fresco” (expressão usada pelo primeiro-ministro) porque acha que a pandemia económica que aí vem vai tornar o governo muito impopular. 

Ora, o bloco não votou ao lado da direita contra o orçamento para se pôr “ao fresco”. Aquele partido da esquerda identitária passou a certidão de óbito à geringonça porque mudou de natureza. Agora quer ser mais do que um partido de protesto, quer ser um partido de poder, quer entrar no governo, quer coligar-se com o PS. Na análise da cúpula bloquista, se não entrar já entra depois de chumbado um orçamento, com ou sem eleições antecipadas. 

A líder do bloco quer fazer ao PS de António Costa o mesmo que o seu congénere espanhol, Pablo Iglesias, fez ao PSOE de Pedro Sánchez. Catarina Martins está com a “Síndrome D. Luísa de Gusmão”: prefere ser ministra um só dia a ser deputada toda a vida. 

Esta foi a minha tese, dita nestes termos há uma semana, no Rádio Jornal do Centro. Fica também aqui escrita.


Fotografia de Nuno Botelho, daqui 

António Costa, já se sabe, confia em Jerónimo de Sousa, não confia na líder do bloco. Por ele, Catarina Martins ficará “duquesa” toda a vida e nunca chegará a “rainha”. 

Em minoria no parlamento e em perda no país, o primeiro-ministro tem que fazer muitas contas de cabeça para salvar o próximo orçamento de estado. 

Se este só passar graças aos votos favoráveis das duas deputadas não-inscritas — Cristina Rodrigues (ex-PAN) e Joacine Katar Moreira (ex-Livre) —, toda a gente perceberá que o governo depende de duas deputadas que não querem perder o emprego. Toda a gente perceberá que regressámos aos tempos do “orçamento limiano”. Ao pântano. 

Guterres, metido naqueles assados, foi-se embora. Que fará, então, Costa?


2. Atendendo ao atraso da vacinação, a proposta de Rui Rio para que se façam as autárquicas dois meses mais tarde faz todo o sentido. 

Seria, ao fim e ao cabo, um regresso ao calendário que aquelas eleições tiveram até 2001.

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