O moinho de Mamadou*
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1. Os tempos estão perigosos:
— um instante no Instagram de um puto fantasioso e aldrabão e, zás!, sai uma trabalheira para a polícia de Viseu;
— uns noticiários longos e opiniosos nas televisões e, zás!, sai uma fila de dinossauros de esquerda a exigir-lhes “sobriedade” e respeitinho salazarista, especialmente quando for para fazerem perguntas a suas excelências os senhores ministros;
— um tuíte de Mamadou sobre um elúvio da guerra colonial e, zás!, sai uma petição estúpida para expulsar o tuiteiro do país;
— um “corte epistemológico” na irrigação cerebral do deputado Ascenso e, zás!, sai uma bola de demolição que fica a pairar em cima do Padrão dos Descobrimentos.
2. Tantos canais, tantas rádios, tantos jornais, tantos filmes, tantas redes sociais, tantas séries, tantas temporadas, tantas notificações, tantas “breaking news”. É um zapping perpétuo, mais e mais estímulos, mais e mais endorfinas.
Os tempos estão maus para reflexão, para informação sólida, por definição, chata. Esta ecologia mediática é um inferno para gente moderada e sensata, é um paraíso para radicais que saibam dominar as técnicas de viralização de mensagens.
É o caso do “racializado” Mamadou Ba que, há menos de dois anos, em Abril de 2019, numa festa do MAS - Movimento Alternativa Socialista (um partido formado por dissidentes do Bloco de Esquerda), explicou bem ao que anda:
Como se vê, o homem tem um plano: usar “a raça” como um “instrumento” para aplicar o “programa”, a que ele chama “nosso”, programa de um partido muito mais à esquerda do que o esquerdista Bloco.
A verdade é que entre nós, nos últimos tempos, tem crescido uma conversa auto-mortificante e ressentida — quase sempre pouco sofisticada — sobre uma putativa “culpa do homem branco”.
Isso significa que o competente Mamadou Ba está a conseguir levar a água ao seu moinho identitário.
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