O comboio*
* Hoje no Jornal do Centro
1. No início deste mês, Lídia Jorge, na sua crónica semanal na Antena 2, contou um episódio observado por ela numa estação de comboios alfacinha. Vou tentar reproduzi-lo aqui de memória, especialmente os signos étnicos que polvilham o seu texto.
Enquanto esperava pelo Alfa, a escritora deu conta que uma rapariga “africana”, com uma grande e pesada mala, andava meio perdida e foi pedir informações a um homem “celta”.
O interpelado, um sexagenário de “pele branca”, ajudou logo a rapariga com um sorriso: «vais para o cais número quatro e esperas que chegue um comboio azul...»
Pouco tempo depois, com o estrépito do costume, chegaram àquela estação, quase em simultâneo, dois comboios e a rapariga “africana”, imediatamente, começou a arrastar a mala para um deles.
Mal o “celta” percebeu que ela ia entrar no comboio errado, abandonou os seus pertences, correu ao seu encontro, alombou ele com a bagagem e foi pô-las, à mala e à rapariga “africana”, no comboio certo para o destino certo.
Depois, o homem entrou no Alfa, para o mesmo compartimento de Lídia Jorge. Esta, testemunha e narradora aos microfones da Antena 2 deste gesto simpático e solidário, em vez de o louvar, preferiu apelidar aquele cidadão de “olhos azuis” de racista porque tratou a rapariga por tu. Em tempos de antanho, lembrou a escritora, os senhores é que faziam questão de tutear as suas escravas.
2. Discursos como este sobre “a culpa do homem branco” são muito comuns agora. Como descreveu o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, neste “país exasperado da sua pobreza ancestral, que atravessa séculos e regimes”, temos agora um coro de intelectuais e políticos a querer “transmutar o povo sofrido em colonizador, racista, privilegiado, preconceituoso, heteropatriarcal e xenófobo”.
Esse coro quer meter à força o nosso desgraçado povo no comboio do ressentimento e do revisionismo histórico. Isso é muito injusto. E estúpido. Pelo menos tão estúpido como chamar racista àquele homem prestável da estação.
1. No início deste mês, Lídia Jorge, na sua crónica semanal na Antena 2, contou um episódio observado por ela numa estação de comboios alfacinha. Vou tentar reproduzi-lo aqui de memória, especialmente os signos étnicos que polvilham o seu texto.
Fotografia de Alex Wendpap |
O interpelado, um sexagenário de “pele branca”, ajudou logo a rapariga com um sorriso: «vais para o cais número quatro e esperas que chegue um comboio azul...»
Pouco tempo depois, com o estrépito do costume, chegaram àquela estação, quase em simultâneo, dois comboios e a rapariga “africana”, imediatamente, começou a arrastar a mala para um deles.
Mal o “celta” percebeu que ela ia entrar no comboio errado, abandonou os seus pertences, correu ao seu encontro, alombou ele com a bagagem e foi pô-las, à mala e à rapariga “africana”, no comboio certo para o destino certo.
Depois, o homem entrou no Alfa, para o mesmo compartimento de Lídia Jorge. Esta, testemunha e narradora aos microfones da Antena 2 deste gesto simpático e solidário, em vez de o louvar, preferiu apelidar aquele cidadão de “olhos azuis” de racista porque tratou a rapariga por tu. Em tempos de antanho, lembrou a escritora, os senhores é que faziam questão de tutear as suas escravas.
2. Discursos como este sobre “a culpa do homem branco” são muito comuns agora. Como descreveu o deputado socialista Sérgio Sousa Pinto, neste “país exasperado da sua pobreza ancestral, que atravessa séculos e regimes”, temos agora um coro de intelectuais e políticos a querer “transmutar o povo sofrido em colonizador, racista, privilegiado, preconceituoso, heteropatriarcal e xenófobo”.
Esse coro quer meter à força o nosso desgraçado povo no comboio do ressentimento e do revisionismo histórico. Isso é muito injusto. E estúpido. Pelo menos tão estúpido como chamar racista àquele homem prestável da estação.
francamente...nem comento...tens mais que razão, abraço-
ResponderEliminarLJ não pensa lá muito bem e vai sempre pelo acessório.
ResponderEliminarÉ mesmo daquelas raridades, entre escritores, que perfil na o "acordo" ortográfico.