Faz de conta

Fotografia de Analise Benevides


Faz de conta
que comer uma maçã é
só isto
sem bicho
sem pântano de fino dedo sobre
a pele a eriçar a suspeição de
gastar o fôlego
em chama medianeira

encosta-te ao muro do lote
do lado de lá cinco
metros abaixo
alguém pare um filho
o choro é real contra a erva
e se as janelas estão de
costas para o
lugar logradouro
o choro só pode ser agouro
de uma obstinação luminosa
rasteira
da marginália

escrevi:

era um problema de hermenêutica
o dos dedos no teclado e o das
fronteiras

o linguajar do par de jarras
em ti pousado como múmias
evidentes

mesmo se com o sotaque reluzente
de enrolar rebuçados
que ainda ouço

era um problema de geografia
entre estar aí ou aqui
vim por isso para dentro

recebo a corrente de ar
mas sei que sou estes ossos
e mais adulta me inteiro livre

se a mão se abre e o dizer se
encaramela, peito
aberto à bala húmida que vem,

se a rua sobrevive a saber o
que revolve no caroço do
quarteirão,

então o rufar que agora
ouço a chegar à minha própria
vista saguão
existe, de facto
existe

e nada disto é estanque
pode entrar chuva por todo
o lado mas também

pode transformar-se
sim,
só não assim

não com a camuflagem
do ego sob a carpete,
assim não

talvez com dedicação
e uma peneira dos
intensos agoras

e saber disto
foi um raio de sol
de alívio

e descarregue dos sacos
para facilitar a gestação do gesto
do arejar completo


Comentários

Mensagens populares