Auréolas

Fotografia de Christopher Campbell



A maré de eucaliptos
redefine os sulcos da luz
na tua pele
na tua barriga
e em outras partes escuras
dum corpo moreno
sem coragem
que vigia a rua primeiro de dezembro

A porta aberta
o sutiã florido
o avental vermelho
caem de vergonha
do outro lado
olhos sós
incrédulos
como esse cheiro de canela
interrompido de óleos perfumados
massagens tântricas
sem um único toque de sino
sem um único beijo

preparaste o creme de chocolate
meio copo de leite condensado
3 colheres de cacau em pó
3 colheres de manteiga
untaste os mamilos
o umbigo
a jóia
o anel
discos do creme castanho
derretem nos olhos
na língua
na saliva
são líquidos mornos
e há que respeitar
a agilidade dos líquidos

Levei-te
à minha vontade
dura como madeira imburana
pulsátil
cheia de fervor
cheia de sangue
futuro imediato
maleável
cera derretida
para forjar ao desvanecer do dia
entre as tuas mãos
na tua boca
um rebuçado enfiado em palito de plástico
missionário inverso
sempre felizes
sempre em alto

Sobraram depois
os pedaços de gengibre
que pintaram de amarelo
linhas afrodisíacas inocentes
no teu hálito doce
sobraram também
os rastos de chocolate
no meu corpo
e no teu
colados em permanência
na paranóia do pecado
que ninguém vai arrancar
do meu campo
ninguém vai arrancar
das águas viscosas
do nosso quarto



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