Dezasseis anos*
* Texto publicado hoje no Jornal do Centro
O Jornal do Centro e o Olho de Gato têm a mesma idade — acabam de fazer dezasseis anos. Nasceram em Março de 2002, estavam as pessoas ainda a aprender a comprar e a vender em euros. O primeiro-ministro ainda era António Guterres mas, duas semanas depois, tomou posse Durão Barroso. Iniciava-se o pântano político de onde ainda não saímos.
Este pântano, aqui amplamente tratado, tem duas marcas distintivas: mistura a política com os negócios, o que nos levou à bancarrota, e centraliza tudo, subtraindo gente e força ao interior.
Um só exemplo deste negocismo desenfreado: as aqui sempre chamadas PPPPP (Parcerias-Prejuízos-Públicos-Proveitos-Privados). Ainda elas não eram referidas em lado nenhum já aqui se denunciava aquele jackpot dado aos rentistas.
Demoremo-nos um pouco mais no centralismo. Nestes dezasseis anos, com o pretexto do controlo do défice, todos os governos trataram de tornar ainda mais real o velho ditado: "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem".
Na educação, em 2002, havia concursos de professores tramitados no distrito, as escolas compravam os seus consumíveis no comércio local, as direcções regionais construíam escolas. Dezasseis anos depois, é tudo em Lisboa. Na saúde, uma factura atrasada do Hospital de Viseu agora só é paga depois do clique de um computador no Terreiro do Paço.
A dinâmica centralista ainda foi mais longe. Até a informação sobre um incêndio numa das nossas serras só pode ser dada por uma girl na capital. Lisboa reserva-se o direito exclusivo de explicar o país... ao país.
Todos os partidos acham isto natural e são, também eles, hipercentralizados. Dezasseis anos depois, ninguém quer saber da “paisagem”. É verdade que, a seguir à tragédia dos incêndios, o interior entrou na retórica política. Mas é só blá-blá-blá.
Qualquer movimento de defesa do interior que queira obter resultados tem que dar um combate sem tréguas ao centralismo. E obrigar Lisboa a devolver-nos o controlo sobre os nossos destinos.
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O Jornal do Centro e o Olho de Gato têm a mesma idade — acabam de fazer dezasseis anos. Nasceram em Março de 2002, estavam as pessoas ainda a aprender a comprar e a vender em euros. O primeiro-ministro ainda era António Guterres mas, duas semanas depois, tomou posse Durão Barroso. Iniciava-se o pântano político de onde ainda não saímos.
Este pântano, aqui amplamente tratado, tem duas marcas distintivas: mistura a política com os negócios, o que nos levou à bancarrota, e centraliza tudo, subtraindo gente e força ao interior.
Um só exemplo deste negocismo desenfreado: as aqui sempre chamadas PPPPP (Parcerias-Prejuízos-Públicos-Proveitos-Privados). Ainda elas não eram referidas em lado nenhum já aqui se denunciava aquele jackpot dado aos rentistas.
Demoremo-nos um pouco mais no centralismo. Nestes dezasseis anos, com o pretexto do controlo do défice, todos os governos trataram de tornar ainda mais real o velho ditado: "Portugal é Lisboa e o resto é paisagem".
Na educação, em 2002, havia concursos de professores tramitados no distrito, as escolas compravam os seus consumíveis no comércio local, as direcções regionais construíam escolas. Dezasseis anos depois, é tudo em Lisboa. Na saúde, uma factura atrasada do Hospital de Viseu agora só é paga depois do clique de um computador no Terreiro do Paço.
A dinâmica centralista ainda foi mais longe. Até a informação sobre um incêndio numa das nossas serras só pode ser dada por uma girl na capital. Lisboa reserva-se o direito exclusivo de explicar o país... ao país.
Todos os partidos acham isto natural e são, também eles, hipercentralizados. Dezasseis anos depois, ninguém quer saber da “paisagem”. É verdade que, a seguir à tragédia dos incêndios, o interior entrou na retórica política. Mas é só blá-blá-blá.
Qualquer movimento de defesa do interior que queira obter resultados tem que dar um combate sem tréguas ao centralismo. E obrigar Lisboa a devolver-nos o controlo sobre os nossos destinos.
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