Visas dourados*
* Publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 11 de Abril de 2014
1. Portugal, depois de terminado o comércio de escravos no Brasil em 1891, virou-se para o proveitoso comércio com países em guerra. Comércio legal ou não legal.
Foi assim na guerra anglo-boer no virar do século XIX para o século XX, foi assim com os abastecimentos aos nacionalistas durante a guerra civil espanhola nos anos de 1930, foi assim na década a seguir com a venda de volfrâmio à Alemanha nazi. Aqui nas beiras fez-se bom dinheiro com esse volfrâmio.
Mais tarde, já durante a guerra colonial, Portugal soube tirar partido da situação marginal dos estados racistas da Rodésia branca e da África do Sul.
A nossa diplomacia é boa a tratar “da cobrança de facilidades” em “situações de marginalidade internacional”. Toda esta informação vem descrita no último livro de José Medeiros Ferreira: “Não há mapa cor-de-rosa, a história (mal)dita da integração europeia”, cuja leitura vale a pena, muito mais que perder tempo com a retórica indigente destas eleições europeias.
Medeiros Ferreira, com o seu sentido de humor inigualável, chamou a esta nossa especialidade: “drenagem atípica de rendas exógenas”. Nisto somos bons e há muito tempo. Esta experiência acumulada tem agora um novo campo de aplicação: a venda de visas dourados a milionários chineses.
E as coisas podem não ficar por aqui: a tríade que manda — formada pela advocacia de negócios, pela banca e pela alta burocracia partidária — ainda se vira para o mercado dos milionários russos e faz um rombo na mais proveitosa “indústria” do Chipre.
2. Os 28 mil euros da reintegração na reforma do ex-vereador Cunha Lemos foram levados à sessão da câmara de Viseu mas não para serem votados. Foi só “para conhecimento”. Foi só um momento filosófico.
O assunto é trazido aqui também “para conhecimento” dos leitores. No mês em que pagam a primeira prestação do IMI.
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