Quem sai a mijar de Beja

Gregório de Matos
1636 — 1696


 Mote

Quem sai a mijar de Beja

por fora de Vidigueira

Dá c'o piçalho em Ferreira.


1

Senhora velha roupeira

pois todo Alentejo andou

não me dirá, quanto achou,

que vai de Beja a Ferreira:

porque outra velha embusteira,

com profia, e com inveja,

não quer que uma légua seja,

e por palmos de cará

diz, que só um palmo achará

quem sai a mijar de Beja.


2

Isto a velha quer, que seja,

e do seu querer colijo,

que vai a beber do mijo,

quem sai a mijar de Beja:

porém quem saber deseja

a conclusão verdadeira,

deste caminho, ou carreira,

pelos passos do pismão

quer saber, que passos vão

por fora da Vidigueira.


3

Porque parvoíce fora

não ver entre boca, e centro,

que uma cousa é mijar dentro

outra cousa andar por fora:

e assim vós, minha Senhora

velha, que nesta carreira

já sois useira, e vezeira

desmenti da velha a inveja,

pois diz, que quem sai de Beja,

dá co piçalho em Ferreira.





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