O Pântano *

* Publicado hoje no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em 22 de março de 2012

     

O Jornal do Centro, como faz dez anos, desafiou os colaboradores a escreverem “à volta desta data redonda”. Ora, há dez anos que este jornal conta, como lhe compete, as histórias do pântano em que o país caiu depois da demissão de Guterres.


E há dez anos que o pântano é assim:

— corrupção: os banqueiros e a grande advocacia de negócios capturaram o poder político; já o escrevi aqui: Barroso e Sócrates foram os mordomos do sr. Salgado do BES;     

— centralismo: Lisboa chamou a si todo o poder; agora perdeu-o para a Troika;

— impostos: há dez anos o IVA estava a 17%, agora está a 23%; há dez anos o IMI ainda não era a renda que agora temos que pagar, com língua de palmo, ao dr. Ruas;

— desorçamentação: a despesa é varrida para debaixo de tapetes fora do perímetro orçamental; os hospitais EPE do sr. Correia de Campos são um exemplo desta cosmética;

— endividamento: subtracção de futuro aos nossos filhos através de transferências de fundos de pensões, antecipação de receitas e, já na fase junkie a caminho da bancarrota, overdoses sucessivas de PPPs directamente para a veia.

Nestes dez anos de pântano, Viseu, tal como todo o país, perdeu poder. Agora já não há nenhuma estrutura distrital com autonomia e capacidade de decisão.

Viseu em 2002 não teve força para dizer sim à universidade pública criada na despedida de Guterres, Viseu em 2012 não tem força para dizer não às portagens, nem tão pouco nos troços da A25 feitos em cima do “velho” IP5.

Em 2002, no assunto universidade pública, os “nossos” políticos falaram grosso, agora, no assunto portagens, nem piaram.

Uma coisa é certa: o país e Viseu vão dar a volta isto. Com sofrimento, com fibra moral e com força interior. Se a terceira república não se limpar, cria-se a quarta.     

O Jornal do Centro cá estará para contar essa saída do pântano.

 

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