Como é possível? *

* Texto publicado no Jornal do Centro há exactamente dez anos, em  9 de março de 2012  

   

A cobrança de portagens nas “nossas” auto-estradas fez ontem três meses. Foi em 8 de Dezembro que se consumou este golpe terrível na mobilidade e na economia da região.  

Esta semana a UE levantou objecções ao método de cobrança das ex-SCUT. Só admira é a “Europa” ter demorado tanto.  

  

Todo este caviloso processo põe um qualquer turista às aranhas e pôs o país à beira da desobediência civil. Os partidos do poder podem agradecer muito ao PCP. Foram as buzinas das ditas “comissões de utentes” que moderaram a revolta das pessoas e a mantiveram dentro da legalidade.    

Esta coluna e o blogue Olho de Gato há muito tempo que perguntam:

— como é possível, num estado liberal e democrático, instalar um sistema big-brother que regista todas as deslocações dos cidadãos?     

— como é possível que, num país da euro-zona, não se possa pagar um serviço com notas e moedas de euro?     

— como é possível que um mesmo serviço, só por ser pago numa payshop ou nos correios, leve uma taxa administrativa em cima?  

— como é possível que - por exemplo na A25 - um Ferrari de Viseu pague menos que um Renault 5 de Beja ou um Corsa de Salamanca e não haver coragem para dizer que esta chamada "discriminação positiva" é uma vergonha ética?    

— como é possível na A1 pagar-se 7 cêntimos de portagem por quilómetro e na A24 pagar-se 11 cêntimos?    

— como é possível o estado cobrar portagens em troços em que o mesmo estado destruiu a alternativa à auto-estrada que existia?    

— como é possível ter acontecido uma renegociação tão opaca e ruinosa destas PPPs rodoviárias, renegociação que deu mais uns milhares de milhões de euros aos rentistas e concentrou todos os riscos e todos os ónus no estado?     

— como é possível não termos um — UM — um deputado eleito pelo círculo eleitoral de Viseu que tenha votado contra isto?


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