A fé que cura

Fotografia de Poodar Chu





Lentamente as mulheres desfilam até onde ele permanece
Vertical em óculos sem aros, cabelo de prata,
Fato escuro, colarinho branco. Assistentes incansavelmente
Persuadem-nas a seguir em frente para a sua voz e para as suas mãos,
Dentro de cuja morna chuva primaveril de dedicado zelo
Cada uma se demora uns vinte segundos. Então, minha filha,
Qual é o mal, a profunda voz americana pergunta,
E, quase sem fazer pausa, entra numa reza
Dando instruções a Deus sobre este olho, aquele joelho.
As suas cabeças são unidas abruptamente; depois, exiladas
Como pensamentos perdedores, partem em silêncio; algumas
Acanhadamente transviam-se, não regressando às suas vidas
Logo; mas outras ficam tensas, espasmo e clamor
De profundas lágrimas roucas, como se uma espécie de criança
Muda e idiota dentro delas ainda sobrevivesse
Para reacordar na bondade, pensando que uma voz
Finalmente chama só por elas, que mãos vieram
Para elevar e iluminar; e tal alegria chega
Que as suas línguas abafadas secam, os seus olhos espremem a dor, uma multidão
De imensas respostas não ouvidas comprime-se e rejubila –

Qual é o mal! Engalanadas em floridas túnicas estremecem:
Por agora, tudo está mal. Em cada uma dorme
Um sentido de vida de acordo com o amor.
Para algumas significa a diferença que faria
Amarem outros, mas atravessando a maioria circula
Como tudo o que teriam feito se tivessem sido amadas.
Aquela nada cura. Uma intensa dor abrandando,
Como quando, derretendo, a rígida paisagem chora,
Expande-se lentamente atravessando-as – isso, e a voz no alto
Dizendo Minha filha e tudo o que o tempo provou em contrário.
Philip Larkin 
Trad.: Cecília Rego Pinheiro



 


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