Fado Português / Cansaço / Carmencita / Erros meus
Fado português
Poema: José Régio
Música: Alain Oulman
O Fado nasceu um dia
Quando o vento mal bulia
E o céu o mar prolongava
Na amurada dum veleiro
No peito dum marinheiro
Que, estando triste, cantava
Que, estando triste, cantava
Ai, que lindeza tamanha
Meu chão, meu monte, meu vale
De folhas, flores, frutos de oiro
Vê se vês terras de Espanha
Areias de Portugal
Olhar ceguinho de choro
Na boca dum marinheiro
Do frágil barco veleiro
Morrendo a canção magoada
Diz o pungir dos desejos
Do lábio a queimar de beijos
Que beija o ar, e mais nada
Que beija o ar, e mais nada
Mãe, adeus. Adeus, Maria
Guarda bem no teu sentido
Que aqui te faço uma jura
Que ou te levo à sacristia
Ou foi Deus que foi servido
Dar-me no mar sepultura
Ora eis que embora outro dia
Quando o vento nem bulia
E o céu o mar prolongava
À proa de outro veleiro
Velava outro marinheiro
Que, estando triste, cantava
Que, estando triste, cantava
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Cansaço
Poema: Luís de Macedo
Música: Joaquim Campos
Por trás do espelho quem está
De olhos fixados nos meus?
Alguém que passou por cá
E seguiu ao deus-dará
Deixando os olhos nos meus.
Quem dorme na minha cama,
E tenta sonhar meus sonhos?
Alguém morreu nesta cama,
E lá de longe me chama
Misturada nos meus sonhos.
Tudo o que faço ou não faço,
Outros fizeram assim.
Daí este meu cansaço
De sentir que quanto faço
Não é feito só por mim.
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Carmencita
Poema: Frederico de Brito
Música: Pedro Rodrigues
Chamava-se Carmencita
A cigana mais bonita
Do que um sonho, uma visão
Diziam que era a cigana
Mais linda da caravana
Mas não tinha coração
Os afagos e carinhos
Perdeu-os pelos caminhos
Sem nunca os ter conhecido
E andou buscando a ventura
Como quem anda à procura
De um grão de areia perdido
Numa noite, de luar
Ouviram o galopar
De dois cavalos fugindo
Carmencita, a linda graça
Renegando a sua raça
Foi atrás de um sonho lindo
Só esta canção magoada
Se envolve no pó da estrada
Quando passa a caravana
Carmencita, Carmencita
Se não fosses tão bonita
Serias sempre cigana
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Erros meus
Poema: Luís Vaz de Camões
Música: Alan Oulman
Erros meus, má fortuna, amor ardente
em minha perdição se conjuraram;
os erros e a fortuna sobejaram,
que para mim bastava o amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
a grande dor das cousas que passaram,
que as magoadas iras me ensinaram
a não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
dei causa que a Fortuna castigasse
as minhas mal fundadas esperanças.
De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse que fartasse
este meu duro génio de vinganças!
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